Sabedoria Zen

OBSTÁCULOS 

Obstáculos são as dificuldades encontradas entre o que foi idealizado e a sua realização. São montanhas e rios que se colocam à nossa frente. Cabe aos preparados espiritualmente de forma sutil contorná-los.  

Para avaliar a factibilidade dos seus ideais, o praticante deve observar alguns pontos, dentre os quais são:  

  • Fonte ou instrumento do desejo ou da vontade. Refletir se os instrumentos que utilizou para idealizar são provindos dos 5 sentidos, de fontes sutis, tais como insights, revelações, premonições ou fantasias da sua consistência.   
  • Idealização factível. O praticante tem que considerar se a sua idealização é factível ou se não passa de um sonho que não possa ser alcançado, ou só pode ser alcançado em futuras gerações.  
  • Atualização de conceitos ou paradigmas. Sabemos que tudo é impermanente. Muitas vezes, temos ideais pré-concebidas sobre algo ou alguém, baseadas em fatos ou narrativas passadas. Observar se está se agarrando a um perfil antigo, que não mais retrata a atualidade.  
  • Agarrar-se ao caminho. Com o alvo em mente, observar se não está agarrado ao caminho. O importante é o alvo, o objetivo. Tenha flexibilidade, procure outro caminho para alcançá-lo. 
  • Agarra-se ao sonho. A rigidez para alcançar algo idealizado lhe trava a chance de alcançar outras coisas que compensam ou suplantam o sonho original – O sonho é apenas um estímulo para caminhar, mas se a ele não se agarrar, o fará mais feliz no caminhar.  
  • O tempo de maturação. A expectativa de alcançar o objetivo leva a uma ansiedade que o cega: a semente de feijão germina no “tempo de deus”, não adianta espernear-se. 

Quem tem obstáculos é o eu, a personalidade. O Ser como Universo não tem obstáculos e nem apegos. 

Principais obstáculos à iluminação – A literatura budista aponta Cinco Obstáculos, como os principais empecilhos à iluminação:   

Desejo Sensual, se refere àquele tipo particular de desejo que busca pela felicidade através dos cinco sentidos da visão, audição, olfato, paladar e tato, chegando em alguns casos a tornar-se obsessão. É bastar-se na personalidade e desejos sensoriais. Exclui qualquer aspiração pela felicidade através da espiritualidade e da bem-aventurança, com o desenvolvimento do sexto sentido (a mente intuitiva). 

Má vontade (ou vontade má), se refere ao desejo de punir, machucar, destruir ou vingar-se. Ela inclui a raiva de alguém ou mesmo de uma situação problemática, e é capaz de gerar uma energia negativa tão intensa, com poder de destruir os outros, e na mesma medida a, si próprio. 

Preguiça, se refere à letargia do corpo e mente, que nos arrasta à inércia incapacitante e à depressão profunda. É a falta de motivação, objetivos e baixa-autoestima. 

Ansiedade / Inquietação, se refere à mente que parece um macaco, sempre saltando de galho em galho, incapaz de permanecer por algum tempo com qualquer coisa. Ela é causada pelo estado mental que busca defeito em tudo, que é incapaz de se satisfazer com as coisas do jeito que elas são e, assim tem que seguir buscando, na promessa de algo melhor, que está o tempo todo um pouco mais além.  

Dúvida – Deriva-se do apego ao caminho ou incertezas aos próprios objetivos, e também a questionamentos íntimos perturbadores de quem deseja as benesses de todos os propósitos, e que, por isto, fica paralisado, por não saber o que abandonar.   

Fontes:   Crônica de Tayo – Sobre obstáculos em geral.  

                Literatura budista (diversas) – Os 5 obstáculos para a iluminação 

Vitória, 27 de março de 2022

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O QUE É RELIGIÃO? 

Raiz da palavra ReligiãoRe (voltar a…, outra vez) + ligare (ligar) > Religar. Mas o religar a quem?   

  • Princípio dualista > A Deus – Separatividade / Monoteísta / Biteísta – antropomorfo.  
  • Ao princípio uno, não dualista, vivenciar a Unidade por si mesmo, através da ampliação da consciência. Reintegração à consciência individual (eu), à Consciência Cósmica (inexistência de um eu). 

O que é Religião – É a institucionalização de um sistema ético, moral, visão de mundo, práticas de saúde, modo de viver, feito por um grupo de pessoas afins, que resolveram acolher para si as proposições de um líder reformador.  

Os passos para a formação de uma religião são os seguintes: 

  1. Um líder reformador aos princípios, modo de vida, visão de mundo, enfim, da cultura em que vivem, dispondo de extraordinária capacidade de visão profunda da natureza e do homem, traz novo modelo, que diz ser mais avançado do que o até então existente. Com isto atrai adeptos ao novo estilo progressista.  
  1. Os adeptos do novo modelo denominam o líder de Mestre. 
  1. O Mestre passa a difundir a sua mensagem em vida, e com ele, segue um grupo de adeptos, que nas suas caminhadas, têm experiências com resultados incomuns, inexplicáveis ou místicos impactantes, unindo ainda mais o grupo de seguidores.  
  1. O Mestre e o grupo de adeptos mais chegados juntam-se, a princípio, em um polo central, para organizarem, a princípio informalmente, as falas, e mensagens do Mestre, compilando a nova “filosofia de vida e visão do mundo” para servir de orientação aos novos adeptos, ao mesmo tempo, para nivelar o entendimento de cada um em uma forma coletiva. 
  1. Após a morte do Mestre, o grupo de adeptos resolve continuar a sua obra, mas em um formato institucional, para proteger e dar representatividade aos princípios, criando assim a Igreja. 

Portanto, a Religião é uma roupagem para o sistema proposto pelo Mestre. É uma atividade humana da esfera da sociologia, psicologia, moral e ética, dentro de um contexto cultural/antropológico.  

A proposição do Mestre geralmente é uma ruptura com o sistema vigente, que reflete determinado nível de consciência e da cultura local. 

O sistema proposto pelo Mestre, independe da “roupagem” que a eles são agregados, tais como adereços e dogmas, os quais representam a opinião e a visão, por vezes, dos adeptos e, não as do Mestre. 

A codificação dos ensinamentos do Mestre é colocada de forma velada, tal que a sua interpretação sirva para os diversos níveis de entendimento dos seguidores. 

TIPOS DE APEPTOS – Os seguidores incultos (à percepção fina) têm uma visão concreta e, muitas vezes, antropomorfa.  

  • Não dispõem de autoconhecimento. 
  • Adoram a imagem do Mestre como representante do poder invisível (Deus). 
  • Agem unicamente pela fé. 
  • Portanto não têm autonomia de pensar, discutir ou viver fora das determinações dogmáticas e escrituras.   
  • Não usam a razão ao relacionar-se aos ensinamentos e as escrituras. 
  • São devocionais. 
  • São sensíveis e praticam cultos e técnicas de encantamento.  
  • Consideram o erro como “pecado” – uma transgressão aos princípios do mestre. 
  • Dependem do querer e da boa vontade do Mestre para ter sucesso  

Os seguidores cultos possuem uma visão abrangente do saber, e por isto, 

  • Estão interessados, não por fé, mas para conhecer as falas e sabedoria do Mestre. 
  • Nem sempre têm relações com a instituição. 
  • Possuem eles mesmos seus próprios princípios de moral e ética, buscando desenvolver-se, por suas próprias experiências e entendimento intelectual (razão). 
  • Vivenciam as suas próprias experiências, e nelas, somente nelas, têm Fé. 
  • Consideram o “erro” como oportunidade de aprender e evitá-lo, não pelo dogma, mas por si próprios. 
  • Dependem, tão somente de si e dos méritos acumulados, para alcançar o sucesso e o domínio da vida. 

NIVEIS DE CONSCIÊCIA E A RELIGIÃO  

Há religiões para cada nível de consciência que o homem alcança.

BUDISMO É UMA RELIGÃO? –  Com base no entendimento do termo “religião”, Budismo é uma religião, por oferecer referência, à vida e experiência de Budha, como um modelo (passível) de ser seguido, que promete levar a alcançar a felicidade aqui e agora, através do conhecimento das 4 nobres verdades e trilhando o caminho óctuplo. Simples assim.  

Mas a sua relação com ela faz toda a diferença: 

  • Os que seguidores incultos – são devocionais. As práticas são ritos de adoração. 
  • Os seguidores cultos consideram os seus ensinamentos como referências de onde podem ampliar os seus conhecimentos.  As práticas servem como oficinas para consolidar princípios. 

                                                           Fonte: Crônica de Tayo

Contribuição ao fórum no Dojo, em 20 de março de 2022. 

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A LEI DA ORIGINAÇÃO INTERDEPENDENTE

Buda ensinou que nada neste mundo se processa por acaso, tudo o que existe é o efeito de uma causa anterior e, por sua vez, a causa de um efeito posterior.

A Roda da Vida apresenta os 12 fatores, isto é, os 12 elos, como a origem dos males que alimentam a existência individual e seu ciclo sem início e fim.

Cada elo do ciclo representa a soma total dos outros e a consequência de todos os outros elos, derivando assim a relação de interdependência.

Analisando nossa existência atual podemos nos questionar: por que, neste novo nascimento, caímos nesta escravidão? A resposta é que, se o que põe esta existência em movimento é a ignorância, o desejo e o apego, também foi numa existência passada, e assim será numa existência futura, pois, as mesmas causas, nas mesmas condições, geram as mesmas consequências.

Todas as ações kármicas terão, evidentemente, uma reação; então, um ser que, numa vida passada produziu esse carma, criou o sêmen de um novo nascimento, o que significa que essas vibrações continuarão.

No Budismo não há o aniquilamento do eu ou da personalidade, tampouco seu Eternalismo – não existe um eu permanente que salta de uma existência para outra.

Quando se joga uma pedra na superfície da água, várias ondas se propagam. Assim, tem-se a ilusão de que é a mesma marca d’água que vai, porém, na realidade cada onda é uma marca d’água diferente. Desta forma, cada onda é uma existência separada, ou seja, é uma energia que se propagou. Essa energia é produto do karma; desta maneira, a vida continua como as ondas.

Os 12 Fatores da Originação Interdependente (Roda da Vida):

1. Por causa da ignorância, existe a individualidade;

2. Através da individualidade estão condicionadas as formações kármicas;

3. Através dasações kármicas surge a consciência;

4. Através da consciência estão condicionados os fenômenos físicos e mentais;

5. Através dos fenômenos físicos e mentais estão condicionadas as faculdades sensoriais (visão, audição, etc.);

6. Por causa dos sentidos, existe o contato;

7. Por causa do contato, existem as sensações;

8. Por causa das sensações, existem os desejos;

9. Por causa dos desejos, existe o apego;

10. Por causa do apego, surge a existência individual (de um “eu” em processo de vir a ser);

11. Por causa da existência individual, há a existência terrena;

12. Por causa da existência terrena, existem a decadência e a morte, ou através do renascimento ficam condicionados: a decadência, a velhice, a morte, as lamentações, os sofrimentos, as tristezas e o desespero.

Vitória, 13 de março de 2022

Fonte: Budismo: Psicologia do Autoconhecimento, Dr. Georges da Silva & Rita Homenko

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EU SOU MINHAS EXPERIÊNCIAS

Fui fustigado por todos os demônios, que me ofereciam prazer e fama.

Conheci o caminho do inferno, tendo adentrado muitos dos seus portais, tendo por isto, sofrido horrores e a chibatada da Lei.  Hoje estou livre, não porque me falaram coisas do bem, e nem pelos livros e contos daqueles que alcançaram a Maestria, Anjos e Santos, mas sim por escolha da Alma.  Escolhi a liberdade de forma espontânea e, pela Vontade Cósmica, tendo alcançado o Paraíso aqui. Rejeitei os encantamentos do “Mal – os prazeres dos sentidos e as vaidades”.

Consegui corrigir a natureza e o rumo das minhas escolhas, à medida que perambulava, enquanto infante, tendo vestido muitas máscaras ao longo do percurso, tendo sucedido dores e sofrimento, mas também sucesso, alegrias e avanços, na proporção em que eu me desapegava delas. Por isso, valorizo as minhas experiências. Foram elas que me fizeram escolher o caminho do Céu, a Plenitude Nirvânica.

Por ter conhecido todos os pecados, nada que venha dos homens menores (homens de desejo) me espanta. A porta do inferno é logo ali, mas a do Céu também o é. Eles são vizinhos e só uma singela ponte os separa.

A verdade, a saúde, a bem-aventurança, a liberdade, a leveza de espírito, cada um deles me levou ao leito do mar da serenidade permanente. Este eu escolhi. Do outro lado, encontram-se os prazeres da carne, do poder, da fama e do dinheiro, que nos trazem uma satisfação efêmera. Eu sou o que resultou de minhas experiências ao longo de vários éons, na eternidade. 

Fonte: Crônica de Tayo

05/03/2022

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MEDITAÇÃO – FORMAS E PROPÓSITOS

1ª PARTE

Diferença entre

  • REFLEXÃO
  • CONTEMPLAÇÃO
  • CONCENTRAÇÃO
  • MEDITAÇÃO

Reflexão – É o método de concentração em um ponto focal, usando a mente ordinária e o raciocínio lógico, cálculos, comparações, inferências dedutivas (da causa para o efeito) e indutivas (dos efeitos para a causa).

Contemplação – Estando inicialmente em estado de vigília, contemplação é mirar fixamente um ambiente no seu todo, sem focar nos seus detalhes. Sem julgamentos, interpretações, observa-se a sua dinâmica até o ponto de a sua mente unir-se a ele (ao Todo).

Concentração –Concentração é o processo de centrar a mente, focando apenas em um ponto, excluindo todos os outros, sejam eles bons ou não. É idêntico ao conceito de meditação, exceto que este é a base do processo pelo qual se alcança a meditação. Concentração/Meditação corresponde ao 8ª Passo do Caminho Óctuplo.  

Meditação A expressão ‘meditação’ tem origem no latim meditare, que tem o sentido de concentrar, focar, pensar sobre algo, ponderar, voltar-se para o centro, desconectar-se da esfera externa e concentrar a atenção sobre si, o seu interior.    

Em sânscrito ela é conhecida como dhyana, pois é conquistada por meio dos exercícios denominados de dharana – concentração.

Há registros da sua aplicação há mais de 5000 anos pelos Yogis na Índia, e nas escolas de mistério do Egito Antigo. Este método servia para tirar as influências das ocorrências do mundo externo, focando-se apenas em um assunto, fossem estes mundanos, relacionados com o seu dia-a-dia ou espirituais, tais como,  ponderar sobre a formação do mundo, a existência ou não da alma humana, a vida após a morte,  ou o de conhecer-se a si mesmo, tentando responder à questão: “Quem sou eu?”.

O uso da meditação foi um grande passo para a humanidade deixar a condição animal, cujas decisões se baseiam no instinto e na emoção, para uma condição superior de percepção, através do uso da razão e da intuição, com o consequente desenvolvimento do terceiro olho (glândula pineal em conjunto com outras do sistema endócrino). Os homens sábios da antiguidade usavam esta técnica, servindo aos governantes e líderes através dos seus conselhos.   

Com o desenvolvimento da aplicação dos métodos, várias formas de meditação surgiram, citemos algumas para exemplificar:

  • Meditação guiada, com dicas para acalmar a mente.
  • Meditação usando a audição como instrumento de concentração – focando em uma música suave ou os sons da natureza.
  • Repetição de sons vocálicos, como por exemplo, “Om”, ou sutras, como o sutra tibetano “Om mani padme hum, on mani padme hum……”, onde padme pronuncia-se “pame”
  • Projeção mental, onde a mente é estimulada a se transportar para um local belíssimo, que é construído com seus detalhes, passo a passo como numa pintura, seguido da contemplação ao espaço criado mentalmente.
  • Meditação através do olfato, concentrando-se nos detalhes e nuances dos cheiros ao redor.
  • Meditação vazia (Zen), inicialmente o praticante se concentra num ponto focal, que serve de escora. À medida que domina a prática, passa a excluir todo e qualquer resquício dual de julgamento e deixa de tomar a si próprio como referência. Abandonam-se quaisquer pensamentos, sejam eles bons ou maus.

Variações de posturas:

  • Sentado em uma almofada, com as pernas entrelaçadas.
  • Sentado em uma cadeira ou banco.
  • Andando vagarosamente (Zen Sōtō-shū).
  • Andando vigorosamente, mesclada com períodos de pausa absoluta (Zen Rinzai).
  • Variadas colocações das mãos: sobre o colo com as palmas votadas para cima (yoga), para baixo (formato ocidental), no formato de mudra universal (Zen Budismo).
  • Coluna ereta e respiração abdominal são comuns a muitas, mas outras formas a elas nada se referem.

2ª. PARTE

 Preparando-se para a meditação (Zazen)

> O espaço

  • Dispor de um ambiente fresco e arejado.
  • Evitar locais em que os cinco sentidos fiquem aguçados: locais com barulho estridente (agudo ou grave), ou com a presença de insetos (pernilongos, moscas…).
  • Manter luz tênue.
  • Preferir locais com odor neutro que não aguce o olfato, ou usar um incenso levemente perfumado.
  • Observar o espaço psicológico do outro, evitando principalmente contato de pele;
  • Usar assento correto (uma almofada, zafu, banquinho ou uma cadeira dura, com encosto ereto, mantendo os pés plantados no chão).

> A posição do corpo

  • Se sentado em um zafu ou almofada, o ideal é a postura de lótus ou semi-lótus, mas o que importa mesmo é manter a coluna ereta e esticada.
  • Colocar o peito para frente e as nádegas para trás, na postura de ganso.
  • Sustentar o abdômen, que deve manter-se contraído, no fluxo e refluxo do ar.
  • Os ombros abertos na horizontal, alinhados com as orelhas, o queixo levemente puxado para baixo, em linha com o umbigo.
  • Secar a boca, em seguida, colocar a língua subposta ao céu da boca.
  • Colocar as mãos em mudra universal.  
  • Idêntica postura deve ser observada, em caso de sentar-se em cadeira ou banco.

> O olhar

  • Os olhos podem ficar entreabertos. Se notar que estão cerrados, sua mente certamente irá divagar. Então, reabra-o e, aproveite para corrigir a sua postura.
  • Manter o foco em linha transversal, em 45°, o que o induzirá à concentração em um ponto imaginário,à sua frente.
  • Manter-se vigilante quanto aos olhos, para que estes naturalmente não se fechem.  O olhar com visão em 90° conduz à ação, o que não é o caso.

3ª. PARTE

> Imobilidade

  • Esforçar-se por manter-se em estado de não ação. Meditar é não agir, portanto, se a pessoa ficar se mexendo, se coçando, engolindo saliva etc., isto é outra coisa, não meditação.

> Concentração, ponto focal

  • Ao longo do período em pausa, manter um ponto focal, por exemplo, na postura, no fluir do ar nos pulmões, no ouvido.

> Vigiar o queixo 

  • Não o deixe cair. A tendência natural é que o queixo caia devido ao peso da cabeça, levando ao sono e ao devaneio.
  • Imagine que o queixo esteja ancorado sobre uma escora que não o deixe cair. Leve a sua mente a focar nesta posição. Com o hábito, você não mais precisará da escora para deixar o queixo na forma recomendada.

> Respiração

  • A respiração preferível é a abdominal. Para tanto, primeiro, ao inspirar, encher a parte inferior dos pulmões, como se fora uma bola inflável no interior da barriga. Em seguida, completar, enchendo a parte superior dos pulmões, inflando o peito. 
  • Ao expirar, primeiro, esvaziar o peito. Depois, puxar o abdômen, como se estivesse comprimindo a bola para expelir o ar no seu interior.
  • Opcionalmente poderá concentrar-se no hara, parte inferior do abdômen.
  • Inicialmente, esse processo é feito de forma consciente, mas, com a repetição, tornando-se um hábito, passa a ser autômato.

4ª. PARTE

> Convívio com as dores

  • Quando ficamos imóveis por um período longo, podem surgir dores ou câimbras. Nesse caso, o praticante não deve pensar na dor, mas sim voltar a sua atenção para o ponto focal que havia antes escolhido, seja a postura, o fluxo da respiração ou outro eleito para tal finalidade. 
  • Pensamento – Quando ondas de pensamentos vierem, deixe-as ir. Não se prender a qualquer circunstância, liberar todos os assuntos.  Os pensamentos fazem parte da mente objetiva, portanto, do campo da reflexão, contrário ao que se deseja com o Zazen, que é uma meditação vazia de propósitos, sem pensamentos, comparações, cálculos. Nada que use o raciocínio ou a razão.

> O tempo

  • Permanecer em silêncio por pelo menos 20 minutos, sendo mais eficaz, períodos de 30 a 40 minutos.

> Frequência  

  • Tornar a meditação um hábito, esforçar-se para manter a frequência e o horário. Repita.
  • Um eminente mestre recomendou que estudantes aplicados devem dispor de pelo menos três períodos de meditação ao dia, a mesma frequência das refeições que servem para alimentar o corpo.

Outras modalidades de meditação Zen

Além da meditação sentada, há também técnicas de meditação em movimento (Kin-Hin), que servem ao mesmo propósito: partindo da mente de vigília, alcançar a não mente.

Fonte:  Crônica de Tayo

30/01/2022

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SER FELIZ

FELICIDADE é o estado de contentamento e completude, vivenciado por uma pessoa íntegra e realizada.

Ser feliz é não ter ansiedade de ser alguém diferente de si, ou ter algo que ainda não possua.

É viver o hoje com as suas labutas diárias, sem pressão para antecipar a sua execução, contente em fazer o que pode ser feito, considerando as suas limitações de habilidades, instrumentos, materiais, pessoas, tecnologia e o tempo.

Não desejar fortunas, glórias e galardões.

Viver com pouco, saciando-se com o que tem.

Não nadar contra a maré – A maré é um fluxo. Siga o fluxo e se esquive, quando puder e se quiser. Evitar lutas e confrontos irados e calorosos.

É dispor de paciência, firmeza, lucidez mental, prontidão.

Aceitar, de bom grado a chuva, a seca, o calor, o frio, o vento o trovão, a vida e a morte. Conciliar-se com os fenômenos da natureza;

Não se amaldiçoar, se for acometido de uma enfermidade, mas combatê-la com todas as suas forças, invertendo favoravelmente o fluxo energético exaurido pela doença, se possível, com remédios naturais, e com boa alimentação, hábitos corretos, a respiração controlada, e mente positiva.  

Sinta-se UNO com todos os Seres e, por eles, tenha amor e compaixão.

Uma pessoa feliz não se apega a nada, não antecipa ou repele as coisas. Com a natureza, percorre o seu fluxo natural

Fonte: Crônica de Tayo – 09/01/2022

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NIRODHA – A TERCEIRA NOBRE VERDADE

A maioria dos humanos vive em um estado de sofrimento. Tomar consciência do sofrimento é a Primeira Nobre Verdade. Reconhecer as causas do sofrimento derivados da ignorância, desejos e apegos é a Segunda Nobre Verdade. Há ignorâncias fundamentais e outras são derivativas. 

Na tradição Mahayana, Avidya é considerada uma ignorância fundamental, enquanto Moha, uma subcategoria, se refere a fatores mentais. Estes fatores são os venenos alimentados pelos sentidos, e que mantêm a “Roda do Samsara” em movimento. 

A descrição desse movimento pode ser traduzida por Samsara Devanagari, que significa perambulação, andar sem destino, vaguear, divagar. No seu sentido estrito, Samsara é um estado de consciência que se manifesta numa perturbação dos sentidos, que não dispõe de referencial e nem percebe uma saída, estabelece um mover-se sem rumo. É a vida em agonia.

Nesse mover-se, apenas somos guiados pelos ventos da ignorância e controlados pelos desejos. Estes venenos ou emoções perturbadoras encontram nesse vaguear uma mente propícia para que nossos instintos e impulsos dominem nossas ações.

A vida Samsárica, é pontilhada por satisfação e prazeres momentâneos, quando os apetites do corpo e dos cinco sentidos são satisfeitos. É o que denominamos Alegria. Estes prazeres momentâneos, algumas vezes, revestidos de euforia, servem de combustível para a recorrência, e daí nos mantemos no Samsara, em uma busca desenfreada por satisfação e prazeres.  

Nirodha é a verdade da cessação do sofrimento, resultante da cessação dos apegos e desejos, transmutados em venenos mentais.  É uma explosão, uma mudança de qualidade da mente, o surgimento de um estado de consciência pura, que transmuta da existência cíclica samsárica para uma existência em livre acesso às experiências do Nirvana.  

Esta compreensão revela que somente a renúncia às causas pode criar as condições para a liberação.  Assim, reconhecer sofrimento, Dukkha, e suas causas é preparar-se para a experiência de  Niroddha, a verdade da cessação, a verdade do Nirvana, com a extinção dos “três fogos”, ou “três venenos”. São os Kleshas. a) a ignorância, b) o apego e c) a aversão, são as principais causas que mantêm os seres sencientes presos ao Samsara.

Dizem que esses três venenos são a raiz de todos os outros males (kleshas): estes venenos definem os estados mentais patológicos que nos levam a gerar ações negativas e têm como resultado a dor e a tristeza.  

A cessação do sofrimento decorre da cessação dos impulsos dos desejos que movem a “roda de Samsara” e do demasiado esforço em nos manter nela, para satisfazer os apetites.  Com a extinção desses venenos, surge uma consciência livre, o Nirvana

Nirvana é repouso e ausência de si, é eco afável do mundo.  Nirvana é uma mente livre, sem sinais, sem limites, sem as limitações causadas pelo fator da ignorância na origem dependente.  É transcendente de todos os objetos da consciência. Consciência naturalmente luminosa, não-dual, totalmente livre, repleta de sabedoria e compaixão, totalmente Buddhica.

Felicidade é o sentimento sutil de harmonia e serenidade interna, livre de apegos e desejos. Está relacionado ao espírito do sentimento nirvânico. É o viver em sabedoria, resultante do dissipar da ignorância, livre da ilusão da separatividade, através da iluminação.

Ao alcançar o Nirvana, não há mais retorno. Perceberá que sempre esteve e sempre estará Uno com todos os Seres, a Mente Cósmica, que não tem começo, e por isto, não tem fim.

12/12/2021

Fonte: adaptação do texto de autoria de Danielle Kreling. Praticante do Daissen Ji.

Escola Soto Zen, tendo Genshô Sensei como Mestre.

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DIFICULDADES EM ENTRAR NA MENTE ZEN

Alguns de nós têm tido dificuldades em entrar completamente na mente zen. Entrar completamente significa se entregar sem muitos questionamentos e experimentar com corpo e mente aquilo que é indicado pela prática zen, imergindo na disciplina. Isso é também sair das bordas da dúvida e da confusão. Não necessariamente porque a mente já está esclarecida, mas por confiar no esclarecimento através da prática. Assim, os modos de se portar no zendô (que agora é também a sua casa, pelo menos durante o zazen virtual) não são protocolares apenas, “existem mas não precisam de ser usados”. Veja que esse tipo de atitude talvez seja a razão por que algumas coisas nunca mudam em sua vida, a mente vê como puramente protocolar porque não quer mudar, não quer deixar a si mesma se transformar. Então você se arrisca a, mais uma vez, participar superficialmente e não de todo o coração. Pergunto, quanto será de todo o coração? Para ser inteiro, de todo o coração, precisa ser nesta vida, então só pode ser agora!

Você pode observar também como é a nossa cultura brasileira. Sem julgamentos de boa ou má, ver o que ela está te propondo, perceber que em parte você pensa de acordo com ela e por pensar de acordo você não a percebe, não a vê, e sua consciência pensa que é assim que as coisas são, confunde com a verdade. Nossa cultura local é a cultura da informalidade, da constante quebra das regras, do faça do jeito (assim você mostra a sua inteligência e independência). Tudo isso pode ser positivo por um lado mas pode deixar as coisas desequilibradas, por outro. Então quando digo, use uma perspectiva que não seja a sua, olhe para o ambiente a partir do ponto de vista da janela, de uma planta, da vizinha, é para que você possa olhar para si mesmo e saber que a verdadeira independência é entender como a sua mente foi programada e sair fora disso.

Então entregar-se aos modos do zen é desejar o esclarecimento com toda a sua existência, corpo e mente, sem dúvidas, sem manter sempre um pé atrás te ancorando e prendendo ao medo da transformação e ao passado. A atitude protocolar, o “vou mas não vou (inteiro)” perde o sentido, porque você se soltou inteiro e só assim pôde experimentar o sabor deste momento, que é um momento sempre sem você, por isso completamente livre.

Assim pequeninas atitudes, aparentemente banais, colaboram para o seu desprendimento. Como a forma correta de se dirigir ao seu professor, a forma correta de se sentar em zazen, a forma correta de estar no zendô virtual, abrindo a sua imagem para todos, silenciando o microfone, nunca se sentando de frente para a câmera durante o zazen. A forma de nos alimentarmos durante os retiros presenciais, a forma de andar no zendô e etc. Fazer o que deve ser feito, junto com todos da sangha, no momento que se deve fazer, só isso é um grande passo. A prática zen acaba com a sua zona de conforto e, simultaneamente, você vai percebendo que não há necessidade de desconforto.

Fonte: Fala de Seigen Sensei, em 13/11/2021

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VIVA HOJE COMO SE FOSSE O ÚLTIMO

Viver hoje com se fosse o último nos remete ao “viver em prontidão”. Viver cada dia por inteiro, dentro do limite da sua capacidade. Faça o que for possível e até o impossível. O tempo ajustará as coisas.

Viva o hoje como se fosse mais um dia da eternidade na qual virá o tempo para “arranjar” as imperfeições. Por ser uma longa viagem, arrume a sua bagagem. Deixe-a pronta para a viagem. A qualquer hora o trem (a nave) pode passar. Não ponha peso desnecessário (preocupações, compromissos que só você possa cumprir…). Deixe-a leve: dissipe mágoas, veja as coisas através de um prisma superior. Perdoar tira o peso do coração.  Mágoa é sinal de que o seu “ego”, o “eu pequeno”, foi ferido. Convoque o seu “Eu superior” para avaliar a situação que o magoou.

Para viver o hoje como se fosse o último, é viver o aqui e agora, na prática.  Livre-se de apego de qualquer gênero, de forma equilibrada, sem estresse, sem expectativas ou remorso. Mesmo que você tenha um desejo sutil de querer construir alguma coisa no futuro, esse desejo não pode ser tão forte ao ponto de impedi-lo de poder “fechar o seu balanço” a qualquer hora. Preste as suas contas a quem é devido, facilite a vida dos herdeiros. Se você estiver vivendo hoje, pronto para a morte, você viverá tranquilo.

Algumas pessoas à beira da morte, têm apegos, pensando em quem vai administrar seu patrimônio, exigindo a ajuda de familiares, desviando-os de seus objetivos. O Budismo oferece esse benefício, estimular a eliminação de ganâncias, desejo por poder, coisas que apegam à carne e ao ego.

Para alivar a carga, faça o zazen como se nada tivesse a fazer depois. Quando se está ansioso, não é possível fazer zazen de forma apropriada. Tome seu tempo. Faça zazen sem hora para terminar, até o momento que seu corpo permitir.

Crônica de Tayo

21/11/2021

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O RESPEITO POR TODOS OS TEMPLOS

O aprendiz alegra-se ao passar por um templo, seja qual for a sua orientação espiritual. Templos são casas de reflexão, e oração. Um local propício para ouvir a voz do seu Eu Interior[1] e as Forças do Universo. O homem necessita de , para compor a sua estrutura psicoemocional, seja esta adquirida por suas próprias experiências ou pela devoção.

As diferentes direções religiosas e filosóficas decorrem do nível de compreensão e desenvolvimento dos seres, mas todos têm em comum o sentimento interno de introspecção e interação com as entidades espirituais da sua compreensão.

Aqueles que, por iniciativa própria, resolvem (de coração) erigir, coordenar ou compartilhar as atividades de um templo, com o propósito exclusivo de oferecer um espaço espiritual aos que necessitam, são homens e mulheres especiais, a quem todos devem reverenciar.

Erigir e administrar um templo demanda dedicação, entusiasmo, muito trabalho, assunção de despesas, entre outras coisas, que geralmente são feitas sem qualquer expectativa de retorno pessoal.

Um templo vive quando respira. Ele respira quando abre as suas portas. Quando as suas portas são descerradas, abre o seu coração, limpo e puro, para ser frequentado pelos caminhantes da sua respectiva linhagem.  A par disto, todos, mas principalmente os seus líderes, são responsáveis por deixá-lo limpo e arejado e, sob nenhuma hipótese, haverá uma solução de continuidade[2] nas suas atividades. Os horários são rigorosamente cumpridos.

Nos templos se praticam, ainda, ritos de iniciação, batizados, casamentos, reverências aos mortos, aconselhamentos espirituais e comportamentais e eles servem, também, como ponto de agregação comunitário em festejos, entre outras finalidades. Portanto, ao passar por qualquer templo, o aprendiz o considera sagrado, faz uma reverência e emite pensamentos positivos de harmonia para o templo físico, a comunidade e correspondente egrégora espiritual.


[1] Eu Interior: ver glossário.

[2] Solução de continuidade: interrupção.

Fonte: Observações de um aprendiz – Uma Jornada ao Transcendente, de Tayo Mattos de Almeida

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DÚVIDAS CÉTICAS  

“O fato de não estarmos conscientes das atividades da mente é o que Gautama Buda designa como Ignorância. Assim, Ignorância é tudo o que escapa à nossa Plena Atenção ou Vigilância.”

Somente através da prática da Plena Atenção, podemos compreender o que é mente e a sua natureza. No contemplar, surgir, desenvolver e desaparecer dos pensamentos, tornamo-nos conscientes deles, e, vendo-os como são, sua influência dominadora sobre nós, torna-se cada vez mais fraca, até nos libertarmos, aos poucos, dos grilhões que nos prendem à Roda da existência contínua”¹.  Neste sentido, dúvidas céticas, defensivas ou discursivas são consideradas grilhões da Iluminação.

Dúvidas céticas², ou seja, “dúvidas sobre a doutrina” mostram-nos o momento investigativo do buscador, a fim de coadunar a doutrina ao seu próprio entendimento intelectual, comum entre pessoas que se encontram no início das suas jornadas de autoconhecimento.

Crenças religiosas, quando se tornam fanáticas, encobrem a mente, tornam-se véus espessos que impedem a luz, ou seja, o conhecimento, de transpassar a escuridão da ignorância.

Quando o estado de fanatismo chega ao ponto de provocar debates defensivos ou discursivos sobre o entendimento da doutrina, tornam-se um grande apego, e se transformam em uma pesada âncora, que impede ou inibe o desenvolvimento da pessoa, e a sua jornada para a iluminação.

Pessoas emocionais e sentimentais agem mais frequentemente com base nas suas emoções e instintos, são geralmente mais explosivas, imediatistas, mais aceptíveis a apegos, refletem a imaturidade do espírito.

Também possuem um comportamento pendular, ora em euforia, ora extremamente depressivos, se alimentam de estímulos emocionais para dirigir o curso das suas vidas.  Pessoas assim buscam motivos para suprir lacunas existenciais e sentimentais ou angústias das quais não sabem a origem.

Espíritos maduros usam frequentemente a intuição para sua percepção, e a razão para decidir o curso das suas vidas. Neste ponto, cessam as buscas céticas e o interesse por variados caminhos espirituais. As pessoas aceitam a vida como ela se apresenta.  Não lhes sobraram dúvidas a dirimir, e o que não sabem, não mais têm interesse em saber, porque já encontraram as suas respostas dentro do contexto do Todo. Assim, diferenças conceituais e de entendimento sobre a doutrina não mais os motivas a discutir. Vivem o seu dia a dia (o hoje), em serenidade.

                                                                                                                      Vitória 07/11/2021

Fonte:

¹  Texto introdutório extraído do livro“Budismo – Psicologia do Autoconhecimento”, de Dr. Georges da Silva e Rita Homenko.

² Texto sobre Dúvidas Céticas é uma crônica elaborada por Tayo.

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DHARMA

Dharma é Sabedoria transmitida por Buda Shakyamuni, Mestres e Adeptos de todas as Ordens que praticam elevada espiritualidade em todo o mundo, as quais foram transcritas em livros, registros e na Tradição. As pessoas têm fácil acesso a estes sábios conhecimentos, de forma direta, em contato com Mestres, professores, ou através de estudos e práticas monásticas e religiosas.

Em sânscrito (“Dham”), significa lei espiritual e moral. Aquilo que o mantém elevado, missão de vida. Dharma está relacionado a religião, doutrina e Leis Universais.

Numa visão mais abrangente, Dharma refere-se ao arquivo universal de conhecimentos e sabedoria. Fazem parte dos Registros Akáshicos. São registros cósmicos de toda a sabedoria, adquirida pela experiência dos seres “hominais”, dotados de inteligência, autoconsciência e discernimento.  Portanto corresponde ao Grande Livro de Sabedoria Cósmica.

Neste caso, para acessar os conhecimentos, é preciso elevar-se e harmonizar-se à Consciência Cósmica, através do desenvolvimento de sensibilidade sutil, com o despertar da intuição e a iluminação, e não através de leitura ou de forma intelectual, que usa a inteligência e os 5 sentidos.

A “voz” do Dharma traz silêncio, sabedoria e refúgio.

Dharma não é para se “aprender” como se faz com uma disciplina universitária. O Dharma é para se “Viver”, com a absorção do conhecimento e sua aplicação no dia a dia e na prática diária. Só se absorve o Dharma quando se esmaece o ego, e passa a perceber a unicidade universal. Da mesma forma que uma esponja que absorve a água, de modo que não se consegue perceber as gotículas que a compõem. Vivendo no Dharma a pessoa está pronta para agir conforme, porque com Ele, forma “Um”.  A pessoa então, passa a ser um agente do próprio Dharma.

O Dharma não está ligado apenas ao Budismo. O termo é utilizado em quase todas as filosofias ou religiões de origem indiana. É o conhecimento acumulado por toda a humanidade. A fonte para se alcançar a verdade e a compreensão da vida e o caminho correto para alcançá-la. O conhecimento transmitido por Jesus é um bom exemplo de Dharma, assim como o de todos os avatares que passaram pela Terra.

O Dharma está atrelado ao Karma. Se aplicar a Lei da Natureza de forma correta, gerará créditos kármicos, ou Karma positivo.

Crônica de Tayo

15/10/2021

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VIVER SEM A PRIMAZIA DO EGO

A visão, o agir, sem a primazia do ego, é resultante do desenvolvimento da Consciência da pessoa, quando os seus desejos e vontades decorrentes do “eu”, passam a ser submetidos aos desejos e vontades coletivas. A pessoa passa a pensar como uma parte de um todo e não como um ser isolado.

Se a pessoa identificar em si hábitos antissociais ou egoístas, cabe à mesma quebrar o ciclo de repetições automáticas.

Hábitos (para o bem ou para o mal) levam a pessoa a agir como autômato, como se fosse um robô programado. Os hábitos se formam e se fortificam através da repetição, até que a mente entenda que seu jeito de pensar ou agir é o padrão normal a ser seguido.  

Seu jeito de ser é seu, e único. Mas os outros pensam que os deles também são.

Passe a analisar as coisas com os parâmetros dos outros, para abrir a sua mente no sentido de estimular o seu senso de solidariedade e altruísmo, mais próximos da mente de natureza búdica.

A visão egoísta é míope. Pequena, não enxerga o mundo na sua totalidade.  Então como reduzir o seu vínculo automático a uma visão egoísta? Sempre que pensar, colocar o outro em primeiro lugar. Ver primeiro os benefícios ao outro, depois então ver os benefícios para si. Inverta a lógica, conclua os seus pensamentos com base nas necessidades coletivas, só então veja como se encaixa neles.

A humanidade, a natureza são como um grande formigueiro: cada um pensa e age de uma forma, mas o conjunto é que deve ser levado em consideração. As diferenças são complementares e como numa orquestra, os sons afinados, em nenhum sobressaindo aos demais, formam uma bela melodia. 

Na comunicação deve sempre ser considerado o perfil do outro. Comunique-se colocando a razão à sua frente, meça as palavras, as profira cuidadosamente, observando a oportunidade para falar.

Muitos valores contribuem para o exercício de uma mente solidária, amável e compassiva, dentre eles, a humildade, em que a pessoa submete os seus desejos, priorizando as necessidades alheias.

03/10/2021

Fonte: Crônica de autoria de Tayo, com base em seu entendimento do tema que foi exposto profundamente pelo Mestre Seigen Sensei, em resposta a uma questão colocada por um de seus discípulos.

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KARMA: ENERGIA PROPULSORA DE REALIZAÇÕES

Uma definição simplificada do Karma é de que se trata de uma Lei Universal em que toda ação (causa) dá origem a uma reação correspondente (efeito). Os pensamentos, palavras e ações geram energia de tal ordem, que ao ser empreendida, é fonte geradora de Karma.

A maioria das pessoas relaciona o Karma a uma ação particular e seus resultados, agradáveis ou desagradáveis. Porém, seu significado original é que as causas são postas em movimento, primeiro, no reino do pensamento, depois, através da palavra, e finalmente, por meio da ação.

Por isso, a responsabilidade de plantar as sementes está no plano mental, não no ato em si, que na verdade, é o último passo da sequência. “Tudo depende de como usamos a mente durante nossa vida na Terra”.

O Karma está relacionado ao desejo de ser ou ter alguma coisa. Apegos, ciúmes são formas da expressão de posse, portanto, de ter. Karma é o que mantém a roda de Samsara ativa para cada um de nós. Pode ser positivo, aquele que conduz à calma, serenidade, doçura e paz. Ou negativo, aquele que conduzem à dor e ao sofrimento.

Desejo é uma demanda do corpo e mente. Mesmo que se restrinja ao âmbito mental, gera energia de busca ou de apego, que age como força ignitora, no processo de sua realização, seja nesta vida ou no futuro.

Pergunta-se: a Vontade, que é uma demanda da Alma, do Eu Superior, também carrega Karma?

Eu diria que sim, se esta vontade não egoísta, tiver na sua essência a busca por realização de algo, como, por exemplo: “Tenho vontade de construir um abrigo para idosos desamparados”.

Os cinco princípios da Lei Karma, atuando como imagens mentais como causas são:

  • Pensamentos repetidos tornam-se tendências.
  • Vontade de realizar torna-se ações.
  • Experiências tornam-se Sabedoria.
  • Experiências dolorosas tornam-se consciência.
  • Aspiração e desejos tornam-se capacidades.

O Karma é uma das principais razões para a recorrência de vidas, até que a pessoa se liberte de apegos, desejos ou mesmo da vontade por realização.

O que não gera karma é o estado contemplativo e de não-agir: estados meditativos profundos, onde o praticante perde a noção de si mesmo.

Será que o não-agir, se encaixa no agir desprovido de vontade de resultado?

Como vimos, o exercício da vontade, mesmo que seja Vontade Superior, carrega Karma. Este é minimizado se o praticante agir sem agir, ou seja, a inatividade na atividade, inação na ação. É o caso em que o praticante age sem ter expectativa de resultado. A realização ou não, poderá vir no tempo de Kairós (como se diz: “quando o Cósmico assim o conceber”). É uma vontade desprovida de apego.

Portanto, haverá geração de Karma enquanto houver busca, seja de qualquer ordem, inclusive a busca pela proteção da vida física, e com ela do “eu”, a “personalidade”.

Quando verdadeira e completamente entregar ao Todo e quando a pessoa não tiver nada mais a buscar, nada mais a aprender, ter algo ou ser alguém com determinados dotes, inclusive a sabedoria, se iluminar ou não mais renascer, não mais gerará Karma, com isso, cessará a recorrência da vida.    

Fonte: Crônica de autoria de Tayo com contribuição de Margareth Ignatowska.

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A FLORESTA DE PALMEIRAS

A manhã havia chegado para o Buda partir de Gaya e fazer seu caminho para Rajagaha. Uruvela Kassapa pediu ao Buda para permitir que toda sangha pudesse acompanhá-lo.

O Buda estava relutante, mas Kassapa explicou como facilmente novecentos bhikkhus podiam viajar juntos. Haveria muitas florestas ao redor de Rajagaha onde os bhikkhus poderiam morar.

Eles podiam mendigar nas muitas aldeias de lá, bem como na capital própria, fazendo contato com muitas pessoas locais. Além disso, acrescentou Kassapa, o número de bhikkhus era agora muito grande para a população de Gaya e teriam apoio e suporte.

Tudo seria mais fácil em Rajagaha. Buda concordou em deixar os novecentos bhikkhus se juntarem a ele.

Os irmãos Kassapa dividiram a sangha em trinta e seis grupos de vinte e cinco bhikkhus. Cada grupo foi liderado por um aluno sênior. Este arranjo permitiu que os bhikkhus fizessem um progresso cada vez maior no caminho.

Dez dias foram necessários para que todos eles chegassem a Rajagaha. Em cada manhã, eles mendigavam em pequenas aldeias e comiam silenciosamente nas florestas ou campos.

Quando eles acabaram de comer, começaram a caminhar novamente, viajando em seus próprios pequenos grupos. A visão dos bhikkhus caminhando silenciosa e lentamente fez uma profunda impressão em todos os que os viram.

Quando eles se aproximaram de Rajagaha, Uruvela Kassapa os levou para a Floresta de Palmeiras, onde o templo Supatthita estava localizado. A Floresta de Palmeiras fica a apenas duas milhas ao sul da capital.

Enquanto esperavam silenciosamente que as ofertas de comida fossem feitas, eles atentamente observavam sua respiração.

A FLORESTA DE BAMBUS

Era dia de lua cheia. O Buda pegou sua tigela e entrou na cidade de Rajagaha com seus 1.250 bhikkhus. Eles caminharam silenciosamente com lentidão, e calma.

As ruas da capital foram decoradas com lanternas e novas flores. Multidões flanquearam os dois lados das ruas para dar as boas-vindas ao Buda e sua sangha.

Quando os bhikkhus chegaram à encruzilhada principal, a multidão era tão espessa que era impossível para o Buda e seus bhikkhus continuarem.

Uruvela Kassapa queria saber o que fazer, quando um belo jovem e outro companheiro apareceram, cantando e tocando uma cítara de dezesseis cordas. A voz dele ressoou como um sino claro.

Enquanto ele caminhava pela multidão cantando,  as pessoas se moveram para os lados para deixá-lo passar. Agora havia um caminho para o Buda e seus bhikkhus continuarem caminhando.

Kassapa reconheceu o músico, que realizou os três refúgios com ele menos de um mês mais cedo. Sua música expressou seus sentimentos profundos:

“Nesta manhã fresca de primavera,

O Iluminado passa pela nossa cidade

Com a nobre comunidade de 1.250 discípulos.

Todos estão caminhando com passos lentos, calmos e radiantes. ”

A multidão ouviu o jovem músico como se estivesse em transe, e eles olhavam o jovem e o Buda passando diante deles. O cantor sorriu e continuou a cantar:

“Grato por esta chance de ser seu aluno,

Deixe-me elogiar seu infinito amor e sabedoria,

O caminho que leva ao auto-contentamento,

E a Sangha que segue o Caminho Verdadeiro para o Despertar. ”

O jovem continuou a cantar e abrir um caminho até o Buda, e todos os bhikkhus alcançaram os portões do palácio. Então ele se curvou para o Buda e desapareceu de volta na multidão tão rapidamente quanto apareceu.

Rei Bimbisara, acompanhado por seis mil atendentes e convidados, saiu para dar as boas-vindas ao Buda. O rei conduziu o Buda e os bhikkhus para o pátio real, onde tendas espaçosas foram montadas para proteger os convidados do sol quente.

O Buda recebeu o lugar de honra no centro do pátio. Todos os lugares para os bhikkhus foram preparados com o máximo cuidado.

Assim que o Buda se sentou, o rei Bimbisara convidou todos os outros para se sentarem. O rei e Uruvela Kassapa sentaram em ambos os lados do Buda.

Fonte: Velho Caminho, Nuvens Brancas – Thich Nhat Hann

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A ÁGUA TAMBÉM SOBE

Na tarde seguinte, as crianças da aldeia vieram visitar o Buda na floresta. Toda a família de Svasti estava lá. 

Buda ficou feliz por se encontrar de volta à floresta da árvore Bodhi. Ele descansou a noite lá. Pela manhã ele surpreendeu Svasti às margens do rio Neranjara. Eles se sentaram por um longo tempo ao longo da costa antes de Buda dizer a Svasti que ele deveria continuar cortando grama necessária para os búfalos.

Ele também ajudou Svasti a cortar grama. Então, despedindo-se de Svasti, ele caminhou até a aldeia para mendigar.

Sujata trouxe todos os seus amigos. As crianças ficaram muito felizes em ver o Buda novamente. Eles ouviram atentamente enquanto ele lhes contava tudo o que havia acontecido com ele no ano anterior.

O Buda prometeu a Svasti que quando Svasti tivesse vinte anos, o Buda o aceitaria como um bhikkhu. Naquela época, as irmãs de Svasti e o irmão teriam idade suficiente para cuidar de si mesmos.

As crianças disseram ao Buda que nos últimos meses, um Mestre espiritual da comunidade liderada por um brâmane havia se estabelecido nas proximidades. Eram quinhentos devotos ao todos.

Eles adoravam o deus do fogo e o nome do brâmane era Kassapa. Ele era profundamente reverenciado por todos que o conheceram.

Na manhã seguinte, o Buda cruzou o rio e encontrou o Mestre da Comunidade, Kassapa.

O Buda parou para falar com um dos seguidores de Kassapa que lhe disse que Kassapa era profundamente versado nos Vedas e viveu uma vida de extrema virtude.

Kassapa, explicou a ele, que também tinha dois irmãos mais novos que lideravam comunidades de adoração ao fogo. Todos os três irmãos declararam o fogo para ser a original essência do universo.

Uruvela Kassapa era profundamente amado por seus dois irmãos, Nadi Kassapa, que viveu com trezentos devotos ao longo do Neranjara, a cerca de um dia de viagem para o norte, e Gaya Kassapa que liderou duzentos devotos em Gaya.

Fonte: Velho Caminho, Nuvens Brancas – Thich Nhat Hann

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A FLORESTA ASCÉTICA

Mestre Uddaka tinha setenta e cinco anos. Ele era venerado por todos como se fosse um deus vivo. Uddaka exigiu que todos os novos discípulos começassem em  níveis mais elementares da prática, então Siddhartha começou novamente com a técnica de meditação mais simples.

Mas em apenas algumas semanas, ele demonstrou a seu novo professor que ele já havia alcançado o reino da não materialidade, e Mestre Uddaka ficou impressionado. Ele viu neste jovem nobre um herdeiro espiritual em potencial, e ele ensinou Siddhartha com o máximo de cuidado.

“Monge Siddhartha Gautama, no estado de não materialidade, o vazio não é mais o mesmo que espaço vazio, nem é o que geralmente é chamado consciência. Tudo o que resta é a percepção e o objeto da percepção. Assim, o caminho para a liberação é transcender toda percepção. ”

Siddhartha respeitosamente perguntou: “Mestre, se alguém elimina a percepção, o que sobrou? Se não houver percepção, como nos diferenciamos de um pedaço de madeira ou de uma pedra?”

“Um pedaço de madeira ou uma pedra não deixa de ter percepção. Objetos inanimados são eles próprios percepção. Você deve chegar a um estado de consciência em que tanto a percepção quanto a não percepção são eliminadas. Este é o estado de nem percepção, nem não percepção. Jovem, você deve agora atingir

aquele estado. ”

Siddhartha saiu para voltar à meditação. Em apenas quinze dias, ele percebeu que o samadhi não é chamado de percepção nem não percepção. Siddhartha viu que esse estado permitia transcender todos os estados comuns de consciência.

O monge Gautama resolveu recuperar sua saúde e usar sua meditação para nutrir o corpo e a mente. Ele iria implorar por comida novamente começando na manhã seguinte. Ele seria seu próprio professor, não dependendo de os ensinamentos de qualquer outra pessoa.

Feliz com esta decisão, ele se esticou em um monte de terra e adormeceu pacificamente. A lua cheia tinha acabado de erguer-se em um céu sem nuvens, e a Via Láctea se estendeu clara e radiante através dos céus.

O monge Gautama acordou na manhã seguinte com o som de pássaros cantando. Ele se levantou e relembrou suas decisões da noite anterior.

Siddhartha  caminhou até o rio para se banhar.  A água estava fria, e Siddhartha a achou esmagadoramente refrescante. Ele gostou da sensação agradável da água em sua pele, acolhendo a sensação com um novo estado de espírito.

Fonte: Velho Caminho, Nuvens Brancas – Thich Nhat Hann

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A PRÁTICA DO SILÊNCIO

O barulho é percebido quando voltamos nosso foco para o lado de fora. E o silêncio é quando nos voltamos para o lado de dentro de nós mesmos.

A nossa mente é uma só, mas é composta pelo anverso, que é denominada mente discricionária, e o seu verso, que é denominada não-mente ou mente não-discricionária.

A mente discricionária é a mente que julga, que diz o que é bom e ruim, que discrimina as coisas, que avalia as situações para tomar decisões.

Não obstante ser ela essencial para se viver neste mundo dual, é necessário pausá-la para fortalecer a não-mente.

Descansar a mente discricionária é uma forma de exercitar a plena atenção.

O Zazen é o método usual adotado pelo Zen, para promover o fortalecimento da não-mente ou da mente não-discriminatória. Isto é, a prática do silêncio.

Os praticantes mais assíduos, fazem Zazen entre 2 a 4 períodos diários de meia-hora, equivalente ao total de 1h a 2h diárias.

Já que vivemos na labuta, cada um no seu trabalho, o que corresponde à maior parte do nosso período de vigília diária, pergunta-se, poderemos aproveitar estas horas despertas, para fortalecer a nossa mente não-discricionária?

Diria que sim. O trabalho diário pode ser transformado em prática meditativa se você conseguir administrar a sua mente, focando em um só assunto de cada vez. Isto é um exercício de estar presente no que faz, no aqui e no agora.

  • Se estiver trabalhando no jardim, cuide direito das folhas e galhos a serem eliminados por excesso, da saúde das plantas, da sua formosura estética natural.
  • Se perceber que sua mente desviou do foco, faça como em Zazen. Respire fundo, e em seguida, foque no trabalho.

Administre sua mente. Se concentrar-se apenas em uma tarefa por vez, reduzirá o ímpeto da sua mente de ficar a pular de galho em galho, à semelhança de um macaco.

Ao reduzir as demandas por reflexões para encontrar soluções para os problemas em que esteja envolvido, isto reduzirá o desgaste da sua mente discricionária (esfriando a cabeça), o que age como estimulador imediato à “lucidez”,  que é o papel da mente não-discriminatória. 

Os mosteiros e templos zen-budistas, adotaram o Samu como exercício de atenção plena, que é complementar à prática de Zazen. Trabalhos simples como varrer, lavar os pratos, limpar os móveis, podem ser transformados em práticas Zen.

Do acordar ao dormir, tudo que se faz, pode ser transformado em atividades que fortaleçam a nossa não-mente, que é a chave para conhecer a si mesmo, e dotar-se de clareza mental.

Assim, podemos incorporar, as tarefas da vida diária aos nossos períodos de Zazen, voltando a nossa mente para aquilo que estávamos fazendo, quando notarmos que ela desviou de foco. Está nas suas mãos, fazer não existir separação entre o Zazen e as tarefas diárias, interligando-as, formando uma única prática.

Se considerarmos a mente discricionária o anverso, ao descansá-la, promoveremos imediato fortalecimento do seu verso, a mente não-discricionária.    

À medida que exercitamos esse modo de agir na vida diária, toda a nossa mente fica relaxada, nos tornando aptos para usar a mente discricionária de forma correta e na hora certa, sem ansiedade. Ao mesmo tempo, abriremos a condição para a nossa mente não-discricionária tornar-se propensa a insights, que nos trazem lucidez mental, entendimento de nossa natureza essencial, os caminhos a trilhar, os processos a adotar, em fim, os meios para alcançarmos serenidade e uma vida profícua e feliz, neste mundo, aqui e agora.  

Crônica de Tayo – 29/08/2021

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AS ESCOLHAS

Nós somos as nossas escolhas.  A nossa profissão e o que fazemos, com quem nos relacionamos, onde e como vivemos. Nesse mundo dual, sempre temos que fazer escolhas.

Da mesma forma, é o caminho espiritual. Para cada nível de consciência dos indivíduos, há uma escola espiritual correspondente. As religiões tendem a se dividir, porque cada pessoa tem uma visão diferente.

Uma pessoa mais inculta vê a madeira como um pedaço de pau sem vida, que não chora, não reclama, não ri, é equivalente a um tijolo. Já as pessoas que têm mais sensibilidade, vêm essa madeira como um ser vivo.  Como todos, nasce, cresce, tem vigor físico ou pode ser acometida por doenças, que transige e se relaciona com outros entes da natureza e, um dia, vai morrer. Há outros, mais sensíveis ainda, que sabem que até o tijolo contém vida em si.

Não existem escolas espirituais ruins. O nível de consciência dos seus membros é o que as difere. Toda escola tem um núcleo externo de práticas leigas e um núcleo interno constituído por obreiros que adentram sua essência.

O tema principal no foco das igrejas é o modus vivendi, o comportamento ideal estigmatizado, que pode ser idealizado por si mesmo, aquilo que lhe conforta, ou idealizado por outros. Qual é a sua escolha?

O Zen não oferece modelos pré-estabelecidos de comportamentos. Você é que tem que encontrá-los, através da tentativa e erro, enfim da sua experiência.  Neste sentido, o Zazen é instrumento fundamental, servindo de bússola para se encontrar o caminho da serenidade e o bem-estar, em vez de levar uma vida a esmo e de sofrimento.

Você por conta própria, face a face consigo mesmo, identificará os pontos fortes e fracos do seu comportamento, problemas que devem ser ultrapassados, apegos que devem desassociados de si, para o seu próprio bem, que reiterada e recorrentemente, o têm levado ao sofrimento.

A transformação interior e o livramento de erros e apegos, correspondem ao próprio caminho do praticante Zen, e condizem com suas escolhas. Outras direções espirituais o chamam de purificação ou libertação, e na psicologia é chamado de catarse.

O Zen estimula a liberdade integral, onde você não se sustenta em nada fora de si, nem mesmo no Buda. Através do Zazen (Shikantaza), esquecendo-se de si mesmo, terá a oportunidade de ver as coisas a partir de uma ótica abrangente.  

Quando você faz uma pausa, facilita ao seu subconsciente aflorar uma solução. Tendo um flash de intuição, é preciso levá-lo à sua razão, para compatibilizar os métodos e a oportunidade de aplicação.

Se percebe que dispõe de um hábito negativo arraigado, existem técnicas para superá-lo.

  • Adentrar o erro e investigar o que é de tão forte que o prende a ele. Faça anotações a respeito de seus hábitos, o que o leva a praticá-lo, como ele se encaixa em sua rotina e qual a recompensa que lhe traz. Para mudá-los, é preciso entendê-los.
  • Agir a favor da corrente. Esquivar-se em vez de contestá-lo diretamente.
  • Dispor de Fé em si mesmo, na força interna gerada pela sua coragem e determinação.
  • Substitua-o por hábitos positivos. Comece a introduzir o novo hábito de forma gradual, por exemplo, praticar atividade física duas vezes na semana, e vá aumentando a frequência aos poucos.
  • Evite situações que o estimulam a praticar o hábito negativo.

A nossa felicidade depende apenas de nós mesmos, de nossas escolhas.

Fonte: Crônica de Tayo – 25/07/2021

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PERCEPÇÃO

Percepção é a capacidade de perceber.

Quanto ao aspecto cognitivo, é a interpretação dos estímulos cerebrais aos sentidos, a partir dos registros históricos e vivências anteriores, que nos servem como referência, através de processos de indução, dedução ou correlação, para interpretar as impressões sensoriais presentes, para atribuí-las um significado.

Na linguística, percepção, relaciona-se ao processo mental cognitivo, memória, juízo e/ou raciocínio.

Percepção extrassensorial – É o ato de obter conhecimento por meio de processos ainda não largamente explorados, ou conhecidos pela ciência. Como exemplo de percepção extrassensorial, podemos citar a telepatia, quando há transferência de pensamentos entre duas pessoas, e a percepção vibracional transmitida por pessoas ou ambientes.  

Estes conceitos preveem a existência do perceptor e do percebido, portanto, dentro da abrangência do mundo dual.

Enquanto estivermos numa posição de observador, ainda não alcançamos a plena percepção Cósmica.

A Percepção última da Realidade, só é vivenciada na Consciência ou Mente  Cósmica.

Nela, não há a existência do perceptor ou percebido. Não há a presença de um Eu separado observando algo externo.  

A percepção última da Realidade só se alcança com a iluminação ou Satori, com a ampliação da Consciência.

Daí vem a questão – A iluminação é um fato ou um processo?

Podemos responder: é um fato, dentro do escopo de um processo.

O que se percebe depende do nível de Consciência que tenha alcançado a pessoa, ao longo do seu Caminho Espiritual – Daí a máxima “o enxergar de cada um”.

Nada é estanque. Tudo é desenvolvido passo a passo. O que parece um salto, na verdade, é construído ao longo de muito tempo, na sua jornada Humana.

As formas não têm face.  Não há uma forma definitiva, a cada instante, ela se transforma em outra forma.

A forma é impermanente. Isto é uma verdade para o mundo material, das formas, mas também no mundo espiritual.

A iluminação se consegue naturalmente, através do desenvolvimento da pessoa.

O Zen dispõe de técnicas milenares que permitem acelerar este processo. A principal é o Shikantaza (Zazen), mesclada com práticas de PLENA ATENÇÃO, como o Samu e as cerimônias, que contribuem para o desenvolvimento demais uma ferramenta de percepção: a intuição.

Kenshô é a experiência da iluminação, através da percepção intuitiva, que é comum ocorrer, até se alcançar o Satori pleno.

Fonte: Crônica Tayo – 18/07/2021

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SENSO DE SEGURANÇA

A insegurança é uma característica que faz parte do ser humano, enquanto em processo de desenvolvimento. Isso faz parte da jornada Humana.  Antes de atingir a iluminação, os seres humanos têm medo. Só se sentirão plenamente seguros quando conhecerem a si próprios.

Todos os nossos medos possuem duas raízes bem definidas: o apego e a ignorância.

O apego nos torna vulneráveis porque nos leva a fixar nossa mente, nossas emoções e nosso desejo em algo externo. Isso envolve uma primeira forma de medo, o de perder aquilo a que estamos apegados.

  • A si próprio – ao eu individual, à personalidade, traz o medo da morte.
  •  Para sustentar a máscara (de fortes, íntegros, bonzinhos…), face as fragilidades internas em relação ao nosso Eu ideal.

A ignorância, por outro lado, nos submerge em um estado de incerteza e dúvida que facilita o aparecimento do medo. As plantas balançam, mas não caem. Elas não têm noção de segurança, porque elas não têm noção do perigo. Perigo de quê? – de morte?

Insegurança leva à ansiedade, ao manter a mente da pessoa no futuro, ao invés de mantê-la no presente. Também tem como consequência o nervosismo, que gera agonia, que traz grande desconforto e sofrimento.

 Só quando chegar ao final da jornada terrena, tendo ultrapassado a ilusão da existência de um eu separado, o ser humano perceberá o Absoluto, o Todo, onde não há destaques individuais de qualquer sorte.

No Absoluto não há vida e nem morte, não há perda e nem ganho, não há sofrimento, não há masculino nem feminino, não há expectativas… nem  passado nem  futuro, apenas o presente. É a serenidade completa, e por isto, não gera medos. No Absoluto, o senso de segurança é completo.

O que o Zen promove em relação à segurança? Ele oferece um processo de autoconhecimento, cujo ponto central é o Zazen, a pausa, que tem como resultado, o fim das fantasias, quando as ilusões desaparecem junto ao falso eu.

Fontes: Tayo; Thich Nhat Hahn / Site: Buda Brasil, Budismo Engajado; Site: A Mente é Maravilhosa

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CUIDADOS

“Cuidado” é o ato consequente da aplicação de uma diversidade de fatores decorrentes do despertar da consciência. Não estando conscientes, as pessoas agem como robôs, autômatos, atuando como animais de carga, como mulas.        

Geralmente quem cuida o faz mais para atender a um ideal, ou uma pessoa do que para benefício próprio. 

São pré-requisitos para a ampliação da consciência:

  1. Conhecer os seus objetivos.
  2. Entender a importância do que faz, em relação ao conjunto em que esteja inserido.
  3. Adquirir senso coletivo – Senso de pertencimento a um grupo.
  4. Autoestima – Reconhecer que tem capacidade de contribuir.

Para ter cuidado, é preciso ter atenção, e para ter atenção, é preciso ter mente focada.

Naturalmente, só se vê aquilo que lhe interessa. Nossa mente é seletiva. Há milhões de coisas ao nosso redor, mas só “enxergamos” aquilo que buscamos, aquilo que nos é importante.

Com uma mente difusa, se vê o perfil do todo, mas não os seus detalhes. Isto não basta para se alcançar a perfeição, ou se aproximar dela.

Também se faz necessário dispor de uma mente clara, livre de ansiedade. A pessoa precisa ter serenidade para buscar e absorver conhecimentos.

Essa mente focada faz com que você tenha uma ideia profunda, no sentido de que você vai adentrar o assunto, e ampla, no sentido de que você vai olhar também para as laterais.

Isto resultará na compreensão completa, e você passará a ter cuidados:

  • ao ouvir, observar e ao aprender.
  • ao falar com as pessoas.
  • ao aplicar uma técnica.
  • nos relacionamentos.  
  • na conversa com superiores e colegas de trabalho.
  • ao ensinar, esclarecer, reclamar.

Ter cuidado não é o mesmo que ter pena. A verdade deve ser falada, mas é preciso cuidado, pois isso pode ferir o ego da pessoa. Cabe a você alertá-la e dar a oportunidade de entendimento.

O caminho para ter mais cuidado é utilizando as técnicas Zen: o Zazen, o Samu e cerimônias, que estimulam a atenção de forma natural, mas a psicologia cresceu tanto que já existem ferramentas para estimular as partes do cérebro que estão menos desenvolvidas (neurofeedback).

Cuidados trazem em si a expressão de valores como:

  • Solidariedade
  • Compartilhamento 
  • Visão coletiva (em vez de uma visão individual/egoísta)
  • Interdependência
  • Paciência
  • Esforço
  • Persistência

Crônica de Tayo

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Liberdade e Discricionariedade

Ao se referir a um poema extraído do livro Shodoka – “O Canto do Satori Imediato” de Yoka Daishimaru, nosso Mestre, disse:

Para o Zen, o princípio da liberdade de pensamento e ação é superior ao da estreita observância preceitos e leis codificados.

Porque? Vejamos o assunto:

“Autonomia” é tomar as ações necessárias dentro de um limite claramente prescrito.  

“Liberdade” é agir por sua própria conta, sem regras, a não ser, a sua própria consciência.

Enquanto estiver atrelado e limitado a regulamentos, não haverá uma conduta autenticamente própria. A pessoa é guiada, monitorada e as suas ações são limitadas às bordas dos regulamentos prescritos. Como se desenvolver assim. Se não pode exprimir a sua própria vontade?

Nos sistemas codificados o desenvolvimento é contido. Não há lugar para o novo. Neles a repetição é a obrigação e compromisso.

Para ser completo, o caminho espiritual tem que ser livre de pensamentos e ações.

Os preceitos zen budistas que são poucos, não são mandatórios, servindo apenas de guia aos praticantes. Na  acepção ampla, Discrição é semelhante a Liberdade, mas com uma conotação de rebeldia: Nem sempre mas pode haver uma autoridade, que o discricionário não a reconhece.

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ALIMENTAÇÃO NA PRÁTICA ZEN

Princípios de Alimentação Zen 

O budismo segue os princípios da Ayurveda – Ciência da Vida que existe há mais de 5.000 anos, precedendo, portanto, ao budismo.

Em complemento aos ensinamentos Ayurvedicos, o budismo inclui outras práticas inerentes ao treinamento dos monges e praticantes zen budistas.

A Ayurveda busca o equilíbrio das energias para o alcance da saúde.

A aplicação deste princípio deve observar aspectos gerais e a conformação particulares de cada pessoa.

Abordaremos os aspectos gerais como são usualmente aplicados nos Mosteiros. Atrás das práticas, há uma grande inteligência de ensino de assuntos sutis. 

O Tenzô – Monge chefe da Cozinha, é responsável pela manipulação e equilíbrio dos alimentos. Segue um cardápio utilizando o que tem, para todos. Casos de limitações alimentares (exceções) são tratados à parte, observando os seguintes pontos:

1) Os sabores dos alimentos são 6 e se relacionam com os elementos da natureza (terra, água, fogo, ar, éter)

  • Doce
  • Azedo
  • Salgado
  • Amargo 
  • Picante 
  • Adstringente

2) As cores dos alimentos

  • Branco: fortalecimento. Fontes de potássio e cálcio contribuem para a manutenção dos ossos, favorecem a regulação dos batimentos cardíacos e são fundamentais para o funcionamento do sistema nervoso e dos músculos.
  • Vermelho: disposição, energia…
  • Amarelo ou laranja: reforço…
  • Verde: limpeza…
  • Preto ou roxo: vitalidade.

3) Consistência – Praticar a aceitação esteja ele em qualquer formato: sólido, líquido, gelatinoso, pastoso, viscoso.

Exercício da Prática do Sentimento Coletivo, Respeito e Solidariedade

  1. Silêncio – Prática da concentração no que está fazendo. Uso do ato de   alimentar-se para praticar a concentração e mente vazia.
  • Sentar-se à mesa, todos juntos após um sinal do Mestre. O mesmo deve ocorrer para começar e terminar a refeição – todos juntos.
  • Servir e ser servido – Sempre que possível praticar o servir ao outro para depois ser servido pelo mesmo.   
  • Aceitar todo alimento É obrigatório ingerir o que for servido – Não se pode recusar quaisquer espécies de alimento.
  • Moderação – Evitar a gula ou a anorexia.
  • Agradecimento e compartilhamento com todos os seres –
  • Oração
  • Compartilhar o que tem com quantos houverem para comer
  • Oferenda aos espíritos famintos (sabasará)
  • Respeito – Cumprimento pelo alimento e as pessoas envolvidas no processo de plantar, colher, processar, transportar, cozinhar, etc. através de um gasshō.
  • Não deixar sobras – Alimentar-se com tudo que colocar no prato. Tomar as sobras no formato de sopa junto com chá (ban cha)
  • Limpeza e arrumação dos utensílios – cada um tem de lavar, enxugar e guardar os utensílios. Quando se usa Ōryōki, isto é feito no Zazendō ou na mesa, a depender de onde esteja.

Práticas Diárias – A Alimentação Zen é um processo complexo, está inserido no âmbito das práticas diárias, muito rico de informações. Reforça a necessidade do convívio com a Sangha, que é dos três tesouros do budismo – o caminho do coletivo facilita a jornada, enquanto o caminho do eremita, o isolamento, a torna mais difícil.

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A FORÇA DO HÁBITO

No Processo de Autotransformação

Ao percorrer o caminho espiritual, no processo de Conhecer a Nós mesmos, nos deparamos com hábitos que julgamos não compatíveis com uma vida pura e santa, que levam ao sofrimento. Muitas vezes, são hábitos enraizados em nossos costumes desde sempre. Pergunta-se: Como eliminá-los ou transformá-los?

1º passo – Reconhecimento e Atitudes Iniciais

– Reconhecer a sua fraqueza e a necessidade de faxina interna e dar mais um passo para evitar sofrimentos.

– Adotar o espírito de Un Sui – nuvem-água – mente de principiante. Humildade de não saber tudo.

– Dispor de mente de curiosidade – buscar alternativas. 

– Adotar atitude de mudança e não resistir às mudanças – (resiliência).

2º passo – Modelar o Comportamento Ideal 

3º passo – Planejar o Processo ou Método de Mudança de Hábito

  • Direto
  • Ou indireto, via adoção de hábitos auxiliares

4º passo – Repetição / Uso da força de vontade

5º passo – Resistir às Tentações

6º passo – Absorção dos novos hábitos – registro na memória corporal e comportamental

7º Costume/Ações Automáticas 

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Este processo não é mecânico e nem racional.

Constam dele 4 nobres verdades:

  1. Reconhecer que há um sofrimento – humildade.
  2. Conhecer as origens do sofrimento.
  3. Esperança, deve ter uma saída.
  4. Caminho que leva à extinção do sofrimento.

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OS CINCO PRECEITOS DO BUDISMO

No Budismo, os cinco preceitos são instruções básicas que devem ser mantidas por monges e leigos.

“Não matar”. Quando a pessoa mesma mata ou manda outro para fazê-lo (conspirar com outros para matar), acabando com a vida de um ser consciente. Matar alguém sem intenção não é, assim, um delito grave. Entre todas as mortes de seres conscientes, matar humanos é naturalmente o crime mais grave. Danificar os outros – com facas, lanças, peças de cerâmica, pedras, etc. – contudo não é considerado tão grave como o crime de matar, mas também pertence à categoria de matar, assim como o suicídio.

“Não roubar”. Isto é aplicado a todas as coisas – nacionais, pessoais ou budistas – que possuem propriedades. Nós quebramos o preceito de não roubar se tomarmos, ocuparmos pela força ou nos apropriarmos de coisas sem o consentimento do dono. Segundo o Dharma de Buda, não podemos usar a escusa de estarmos famintos, doentes ou com vontade de manter os nossos pais, mulher e filhos para roubar. Todo roubo é condenado.

“Não se envolver em uma conduta sexual imprópria”. Se um homem e uma mulher convierem em se tornar marido e mulher pelos ritos de reconhecimento público, com a aprovação dos tutores e não violando as leis seculares, então o contato sexual entre marido e mulher (que é um elemento importante da formação familiar para a continuação da posteridade) é próprio e não é condenado.

 “Não fazer depoimentos falsos”. Algumas vezes fazemos depoimentos não verdadeiros para o nosso próprio benefício, para o benefício dos nossos parentes e amigos ou para prejudicar o nosso inimigo. O preceito de não mentir aplica-se ainda a dizer conhecer alguma coisa que não conhecemos e negar que conhecemos alguma coisa quando sim, a conhecemos; dizer que tem uma coisa quando isso não for verdade e dizer que não tem uma coisa quando sim, a tem; e dizer que uma coisa é certa quando ela não o for e vice-versa. Fazer depoimentos falsos para nos beneficiar e para beneficiar os nossos parentes, mas produzindo dano aos outros, cometemos o grave crime de mentir. Para outros tipos de depoimentos falsos, o crime é mais ligeiro.

“Não se intoxicar”. Qualquer substância que tem a capacidade de perturbar ou confundir a nossa mente não devemos consumi-la nunca.

Fonte: Site Templo Budista Tzong Kwan

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KLESHAS – OBSTÁCULOS PARA A REALIZAÇÃO

Klesha significa obstáculo que leva ao karma. Ambos são considerados āvarana, cujo significado é “envoltório”, que cobre a mente, obscurecendo a realização.

Há também outro tipo de āvarana chamado jñeyāvarana, que permanece mesmo no estágio de arahat (iluminação). Este āvarana é o obscurecimento à onisciência. Ele permanece tanto nos arahats quanto nos Bodhisattvas. Só é removido quando o estado de Buddha é atingido.

Se pudermos remover o klesha, poderemos deter o fluxo do karma, evitar o surgimento do sofrimento e atingir a realização.

Os textos dizem que o kleshāvarana possui oitenta e quatro mil formas, que podem ser simplificadas em cinco categorias principais: ignorância (avidya), ego (asmita) desejo (raga), aversão (dvesha) e medo da morte (abhinivesha)

1) IGNORÂNCIA (AVIDYA)

A ignorância é a raiz de todos os outros kleshas. Não se trata de falta de conhecimento intelectual, mas da incapacidade de ver a realidade como ela realmente é.

Enquanto os demais kleshas são ativos, tornando as coisas piores, a ignorância é basicamente o erro na compreensão das coisas.

Por exemplo: matar uma pessoa, por achar que é um ato correto, sacrificar animais a deuses.

Para superar o sofrimento, é preciso superar a ignorância e tudo o que ela causa.

Se quisermos remover a ignorância, devemos primeiro descobrir a sua natureza e seu oposto: Shūnyatā (falta de existência inerente do “eu”).

2) EGO (ASMITA)

Faz com que vejamos o “eu” de maneira equivocada. O que chamamos de “eu” pode ser dividido, tanto no corpo quanto na mente, em cinco agregados (skandas), que são cinco elementos da existência sensorial:

1 – Forma física: nosso corpo.

2 – Sensações: contatos corporais ou mentais.

3 – Cognição percepção, diferenciação: ligado aos cinco sentidos e ao pensamento.

4 – Formações volativas: qualidades ou tendências da mente, produzidas pelo karma, que controlam várias espécies de fatores mentais condicionantes.

5 – Consciência: permite a percepção dos objetos e o funcionamento dos outros skandas.

Nossa ignorância nos leva a pensar no ‘eu’ como uma entidade existindo independentemente. Quando estamos conscientes de que essa não é a verdade, então podemos alcançar a reta compreensão. O “eu” existe apenas como uma combinação dos agregados.

Esta ignorância sobre o “eu” é a raiz de toda impureza mental, karma e sofrimento. Para remover o sofrimento, devemos remover completamente esta ignorância.

3) DESEJO (RAGA)

O desejo torna um objeto mais atraente do que ele realmente é. Traz felicidade, quando estamos junto daquilo que desejamos, mas é uma felicidade temporária.

Causa o karma inábil.

  • O desejo de comer carne leva a matar animais.
  • O desejo de possuir propriedades pode levar ao roubo.
  • O desejo desmedido de manter relações sexuais, pode levar a ter má conduta sexual.
  • O desejo de criar uma falsa impressão leva a mentir.
  • O desejo de atingir um objetivo pode levar à calúnia.

Em resumo, se qualquer ser, desde o humano até o menor inseto, deseja algo, este desejo produz ação inábil, que surgiu do klesha do desejo.

4) AVERSÃO (DVESHA)

A aversão tem efeito oposto ao do desejo: ela faz seu objeto parecer pior do que é. Pode facilmente resultar em roubo, morte e má conduta sexual. Causa mentiras, calúnias, palavras ásperas, malícia e conversas irresponsáveis (falar de alguém de forma pejorativa).

É mais doloroso que o desejo, e a dor que causa é imediata.

O desejo pode ser comparado a uma flor muito bonita, que logo seca e se torna feia. Enquanto a aversão pode ser comparada a uma vespa, que somente fere.

A fisionomia de uma pessoa cheia de aversão, é carregada e sombria.

5) MEDO DA MORTE (ABHINIVESHA)

A nossa identificação com o complexo de corpo-mente e o nosso apego aos padrões de aquisição para o satisfazer, leva-nos a temer o fim da nossa existência com a morte do corpo físico.

Podemos estar conscientes ou não desse temor, tal como podemos estar conscientes ou não que a morte seja algo fora do nosso controle. Podemos sentir que a morte representa um fim da nossa capacidade de satisfazer os desejos, e ao pensar que deixaremos de existir, aumenta o apego à vida.

Enquanto os kleshas estiverem atuando na vida de um indivíduo, o veículo dos karmas estará sendo continuamente alimentado, não havendo possibilidade de esta série de vidas ter fim.

Enquanto a ignorância permanecer, resultará em vidas de diferentes classes, duração e experiências.

Quando o obstáculo surge e você os reconhece, você não deve tentar persegui-lo ou interrompê-lo, nem ceder a ele. Não é necessário pará-lo porque a natureza do obstáculo está no vazio, o mesmo que a natureza do pensamento, o mesmo que a natureza da mente.

Você simplesmente deve olhar diretamente para a sua natureza, experimentá-la e reconhecê-la. Para fazer isso, claro, sua mente precisa estar um pouco relaxada, mas também você precisa ter uma consciência lúcida.

O meio adotado para reduzir os obstáculos é dhyana, que significa meditação ou contemplação. Esta palavra implica uma autodisciplina bastante abrangente, da qual a meditação é o pivô. Todos os obstáculos devem ser suprimidos juntamente, não sendo útil a eliminação de apenas um.

Fonte: “A Senda Graduada Para a Libertação – Instruções Orais de um Líder Tibetano”, Geshe Rabten. “A Ciência da Yoga”, I. K. Taimni. Site “Semente do Yoga”.

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OITO APRENDIZADOS

Trata-se de uma síntese de um dos discursos de Budha aos discípulos, ao final da sua vida.

1) Livrar-se da ganância. Buda disse: “Quem muito deseja, procurando fama e lucro, se sujeita a grande sofrimento. Uma pessoa de poucos desejos não sofre. Uma pessoa que pouco deseja não depende da vontade dos outros nem se torna escrava dos seus órgãos dos sentidos. Satisfeita com pouco, não tem grandes preocupações e se mantém calma. A libertação garante sua entrada no nirvana”.

2) O segundo aprendizado é a satisfação. Buda disse: “Para escapar do sofrimento, você deve manter a satisfação em mente. Estar satisfeito é ter um estado mental de paz e alegria. A pessoa satisfeita é feliz mesmo dormindo no chão. A insatisfeita é infeliz mesmo em um grande palácio. Embora tenha muitas riquezas, é uma pessoa pobre. A pessoa satisfeita se apieda da insatisfeita, pois esta última é prisioneira dos cinco desejos.

3) O terceiro é apreciar a quietude. Isso significa apreciar a vida solitária, separando-se das perturbações mundanas. Buda disse: “Abandone o apego ao eu e aos outros e viva uma vida solitária, eliminando a raiz do sofrimento. Quem quer estar sempre com outras pessoas acabará perturbado por elas. Assim como um velho elefante é incapaz de se libertar quando afunda na lama, as pessoas comuns não conseguem escapar de várias espécies de sofrimento.

4) O quarto é diligência. Buda disse: “Se for diligente na prática correta, nada será difícil para você. Seja diligente. A água corrente, mesmo pouca, pode eventualmente desgastar uma rocha”.

5) Memória correta significa preservar os ensinamentos e a compreensão do Dharma. Buda disse: “Mantenha a compreensão correta, libertando-se das delusões. Manter a memória correta prevenirá você de ser ferido pelos cinco desejos, como um soldado que usa uma boa armadura”. A delusão é o engano da experiência e impede qualquer outro raciocínio. Torna falso o entendimento da experiência.

6) Samadhi significa residir na verdade, um estado mental imperturbável. Buda disse: “Utilize o estado Samadhi ao controlar sua mente, tornando-se consciente do nascimento e desaparecimento mundanos. Seja diligente nas várias formas de Samadhi. Assim sua mente se tornará imperturbável. Faça a barragem de Samadhi para evitar que a água da sabedoria vaze”.

7) Pratique a sabedoria. A sabedoria surge da iluminação, que resulta de haver praticado o Dharma que ouviu e sobre o qual refletiu. Buda disse: “Quando possuir sabedoria, estará livre de apegos à ganância. Reflita sobre si mesmo, sempre, para não perder a sabedoria, pois esse é o caminho da iluminação. Quem possui sabedoria é como um navio forte cruzando o oceano da velhice, doença e morte. É como uma lâmpada brilhante, desfazendo a escuridão da delusão. É como um bom remédio para quem está doente, como um machado afiado cortando a árvore da ilusão. A sabedoria resultante de haver ouvido, pensado e praticado o Dharma pode ser usada para aumentar o mérito. Quem possui a luz da sabedoria tem o poder de ver a verdade com olhos nus.”

8) O oitavo aprendizado é evitar discussões inúteis. Isso significa ir além do pensamento discriminatório e realizar a verdadeira natureza de tudo que existe. Buda disse: “Discussões inúteis perturbam a mente e impedem a realização do caminho. Apenas quem abandona rapidamente essas discussões que perturbam a mente pode experimentar a bênção do nirvana”.

Ao terminar, Buda disse: “Procurem devotadamente o caminho, pois as coisas mundanas, tanto transientes como intransigentes, estão sujeitas à destruição e decadência. Parem de falar por um momento, pois o tempo passa e eu estou quase morrendo. Estas são minhas palavras finais”.

Buda tinha oitenta anos de idade. Deixou inúmeros discípulos e discípulas. Monásticos e monásticas. Leigos e leigas. Seus ensinamentos de mais de 2.600 anos chegam até nós.

Seu propósito é nos libertar da ignorância – fonte de compreensões erradas, apegos, aversões, delusões e sofrimentos.

Fonte: “O sofrimento é opcional”, Monja Coen

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O QUE É E PARA QUE SERVE O SESSHIN?

A vida é como se fosse uma moeda. O lado de cima representa o mundo objetivo e dual, com as suas polaridades: o bem e o mal, o preto e o branco, o quente e o frio. O mundo bipolar, mundo da forma, é movido pela ação e é percebido pelos 5 sentidos do corpo.

O Sesshin representa o outro lado da moeda: o mundo subjetivo (oculto para maioria das pessoas), é unipolar, sutil, o mundo da não-forma, a natureza essencial das coisas, a essência. O mundo unipolar, sutil, é percebido através da não-ação.

Como, para muitos, é difícil vivenciar o mundo da não-forma, foi criado e consolidado, por muitos séculos, técnicas voltadas para o treinamento de monges, utilizando-se o mecanismo de criar uma crise artificial, através da imobilização do corpo e mente, da seguinte forma:

Durante o Sesshin, reduzimos ao máximo os estímulos do mundo dual, para podermos dar as condições de aquietar o corpo e mente, assim, estimulando a percepção do mundo sutil. Eis algumas das técnicas geralmente aplicadas nos Mosteiros:

  • Acordamos cedo entre 3h e 5 h da manhã e dormimos cedo, até as 21h
  • Comemos pouco – não ingerimos carne do reino animal de qualquer espécie, inclusive peixe. Mantemos o nosso corpo hidratado.
  • Não fazemos exercícios ou esforços físicos.
  • Não usamos nossa razão para calcular, pensar, planejar, ler, falar, discutir, contratar, distratar.
  • Não nos envolvemos com estímulos sexuais e nem fazemos sexo.
  • Não nos comunicamos com o mundo externo. Não vemos TV, e nem usamos telefone, ou qualquer dispositivo de mídia social. 
  • Não usamos perfumes. Não cortamos cabelo, e os homens não fazem a barba.
  • Não participamos de festas ou qualquer evento que estimule os seus centros emocionais.
  • Não ingerimos bebida alcóolica ou outras drogas lícitas, como o fumo, ou ilícitas.

Estando frente a uma parede branca, não vemos nada. Se estivéssemos diante da natureza, poderíamos ser distraídos por pássaros, por exemplo. Se fecharmos os olhos, nossa mente cria fantasias.

Como não há conversas, diálogos, ou comentários, as opiniões tendem a desaparecer, assim como atritos pessoais e agitações.

Mesmo sentados e concentrados da maneira correta, é comum que nossos pensamentos venham. Não nos concentramos neles, sejam eles boas ou más ideias. Colocamos o foco da nossa mente na respiração, por exemplo, e simplesmente deixamos ir. 

A imobilização cansa. À medida que vamos fazendo mais Zazen durante o retiro, nossos corpos vão se cansando, mas isso também é proposital.

Esse cansaço cria a oportunidade para nos livrarmos de coisas inúteis que carregamos.  Mas, para tanto, precisamos percebê-las, o que é facilitado por estarmos imersos em um estado especial de consciência que o Sesshin propiciou. Não lute contra elas, não se culpe, sem julgamento de certo ou errado.

Não devemos tentar raciocinar quando sentamos em meditação. Devemos voltar para o ruído da natureza, pois ele é uma porta de entrada para a visão da unicidade.

O pouco sono é bom porque pode gerar algum tipo de sonho acordado. É possível perceber, porque são sonhos lúcidos. Quando fazemos Zazen, nosso inconsciente apresenta, com imagens simbólicas e conteúdo, o que somos hoje. Talvez na semana ou no dia anterior, fôssemos diferentes.

Diante de uma parede branca, não podemos enganar a nós mesmos. Estamos perdidos no jogo de ilusões do ego, que nos faz pensar que somos separados e diferentes uns dos outros.

Ao entrar no portal do Vazio nos transformamos no próprio Vazio, nos livramos da forma de nós mesmos, podemos assim enxergar nossa verdadeira natureza.

É isso o que tentamos fazer no Sesshin. Assim, nos livramos de nascimento e morte e todos os sofrimentos agregados ao “eu”, como “meu”, “minha”, nossas paixões, tristezas e frustrações.

Normalmente agimos como um velcro, que tudo agarra, mas devemos tentar ser como a flor de lótus, que tem sua raiz no lodo, mas pétalas sempre lisas e brancas, onde a sujeira sempre escorrega e não adere a elas.

Quando não nos agarrarmos a qualquer coisa ou ponto, nossa mente repousar e nos encontrarmos num momento de calma e clareza, estaremos vivendo o Samadhi.

Se prepararmos esse terreno cuidadosamente desde o primeiro dia, com uma limpeza da mente, no segundo dia, tudo começará a se acalmar, e depois, no terceiro dia, começamos a nos desvencilhar das coisas inúteis, e nos sentiremos simples, e leves.  O retiro tradicional dura 7 dias. Foi o que Budha Shakyamuni fez quando da sua iluminação.

Só compreendemos o que é o Sesshin quando ele termina. Enquanto estamos nele, só existe dor e vontade de desistir. Mas é preciso resistir, pois se alguém desiste, é uma grande perda de força e desperdício de energia.  Precisamos passar por essa grande aventura para irmos mais a fundo.

Não existe caminho fácil para a iluminação. A decisão de participar do Sesshin indica que você já alcançou ou está no caminho de alcançá-la.

Fonte: Adaptação do texto do livro “Caminho Zen” de autoria do Monge Genshô.

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A Transitoriedade e o Vazio

Sidarta, utilizando palavras e exemplos simples, abordou um assunto complexo para o entendimento intelectual: A transitoriedade e o vazio do eu (transitoriedade do eu menor, da pessoa).

“Siddhartha entendeu que a transitoriedade e o vazio do eu eram as condições necessárias para a vida.

Sem a transitoriedade e o vazio do eu, nada poderia crescer ou se desenvolver.

Se a natureza de um grão de arroz não fosse transitória e vazia de sua própria entidade, ele não poderia se transformar em uma planta de arroz.

Se as nuvens não estivessem vazias de uma entidade própria e não fossem impermanentes, elas não poderiam se transformar em chuva.

Sem a natureza transitória e vazia do “eu”, uma criança não poderia ser um adulto.

Portanto, pensava ele, aceitar a vida significa aceitar a transitoriedade e o vazio do eu ou de uma entidade própria nos objetos.

A fonte de sofrimento é a crença errônea na permanência e existência de entidades separadas.

Olhando para ela, entende-se que não há nascimento ou morte, produção ou destruição, um ou muitos, interior ou exterior, grande ou pequeno, impuro ou puro. Todos os conceitos são falsas distinções criadas pelo intelecto.

Se você penetrar na natureza vazia de todas as coisas, você transcenderá todas as barreiras mentais e obterá a liberação do ciclo de sofrimento.”

Fonte: “Velho Caminho, Nuvens Brancas”, Thich Nhat Hanh

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DISCURSO SOBRE OS OBSTÁCULOS – SABBASAVA SUTTA

Texto adaptado do livro “Budismo, Psicologia do Autoconhecimento”

de Georges da Silva e Rita Homenko

O 2º voto do Bodisatva declara que as paixões são inexauríveis. Os desejos, impulsos, impaciência, raiva e todas as paixões que estão sempre tentando tomar conta de si, faz votos de extingui-las.

As paixões são obstáculos, que agem como âncoras, não deixando a pessoa sair do mundo do sofrimento.

Segundo o Buda, em um dos seus discursos aos discípulos, a destruição dos obstáculos é para aquele que sabe e distingue o pensamento sábio, e o pensamento sem sabedoria.

Naquele que pensa sem sabedoria, os obstáculos não-surgidos, aparecem, e os obstáculos surgidos, crescem.

Naquele que pensa com sabedoria, os obstáculos que não-surgiram, não surgem, e os obstáculos já-surgidos, decrescem.

A questão é como extinguir os obstáculos. Eis os métodos que ensinou:

I – Obstáculos que devem ser vencidos pelo discernimento.

Discernimento é a capacidade de avaliar as coisas com bom senso e clareza; juízo, tino – com uso da razão.

Estes obstáculos surgem para o homem não esclarecido, que, sem saber discernir, pensa em assuntos que não deveria pensar.

Se pensamos em certos assuntos relacionados ao desejo sensual, os obstáculos não-surgidos aparecem, e os existentes, aumentam. Da mesma forma, acontece com o desejo de existência permanente e eterna do eu, da personalidade.

Preso a objetos relacionados aos 5 sentidos do corpo e ao eu, o homem não é livre. Está preso à Dukka (Existência de Sofrimento).

O homem sábio, por sua vez reconhece o sofrimento, sua causa, sua cessação e o caminho que leva à sua cessação (Caminho Óctuplo).

Com essa observação, liberta-se dos vínculos:

  • desejos sensoriais
  • a ilusão do eu (a permanência eterna da personalidade)
  • às dúvidas céticas
  • e a crença na eficácia de regras e rituais (cerimônias), em si.

II – Obstáculos que devem ser vencidos pelo controle mental, através da observação correta e vigilância.

A observação das coisas com sabedoria. É preciso considerar as limitações das faculdades do homem: visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil, mental e dos sentidos, e ver além das aparências, do que está coberto pelo véu da sua própria limitação.

Naqueles que não o fazem, surgem os obstáculos opressivos, aversões e paixões ardentes.

Naqueles que o fazem, tais obstáculos não surgem.

III – Obstáculos que devem ser vencidos pelo uso correto

Trata-se do uso correto, limitando-se, às necessidades para cada coisa.

Exemplos:

1 – Roupas: utiliza-as como proteção e para proteger sua nudez.

2 – Alimentos: para manter a existência do corpo com saúde e para suprimir o sofrimento, não por prazer, e sem exagero. Então, o homem sábio pensa: “Assim poderei pôr fim ao sofrimento passado, não produzirei novos sofrimentos. Deste modo, minha vida será reta e feliz.”

3 – Moradia: para proteger-se do tempo, das estações, dos animais e para meditar.

4 – Remédios: apenas contra enfermidades e como alívio às sensações de mal-estar, com a finalidade de conservar a saúde.

IV – Obstáculos que devem ser vencidos pela tolerância

Um discípulo sabiamente suporta com paciência, o frio, o calor, a fome, a sede, o contato dos mosquitos, do vento, do sol. Assim, suporta com serenidade, as sensações penosas, dolorosas, perfurantes, amargas, desagradáveis, mortais e discursos malévolos.

V – Obstáculos que devem ser vencidos evitando-os

O discípulo, considerando sabiamente, evita animais furiosos e venenosos, moitas com espinhos, precipícios, pântanos, lugares malvistos, gente indigna de amizade e situações perigosas para a saúde física, mental ou moral.

VI – Obstáculos que devem ser vencidos afastando-os

Tumores, feridas, pensamentos sensuais ou de maldade surgem. O discípulo, considerando com sabedoria, não os abriga. Ele os afasta, lhes põe um fim, não os deixa crescer.

VII – Obstáculos que devem ser vencidos pelo desenvolvimento espiritual

Um discípulo, considerando com sabedoria, desenvolve:

  • O fator do despertar da Iluminação, denominado “Plena Atenção ou Vigilância”.
  • A Investigação da Lei (Doutrina).
  • A energia, alegria, tranquilidade.
  • A concentração (Observação Pura).
  • A equanimidade.

Então o discípulo permanece livre de todos os obstáculos, destruiu a avidez do desejo, libertou-se dos vínculos do corpo e mente. E pela Correta Compreensão das falsas avaliações, põe fim ao Sofrimento.

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Os Votos do Bodhisattva

Os quatro votos do Bodhisattva são:“Os seres são inumeráveis, faço votos de libertá-los todos” – faço voto de libertar inumeráveis seres de seus sofrimentos, e me coloco à disposição, assim como ofereço o meu exemplo;

  • “As paixões são inexauríveis, faço voto de extingui-las todas” – as minhas paixões, os meus desejos, os meus impulsos, minhas vontades, a impaciência, raiva e todas as paixões que estão sempre tentando se apresentar e tomar conta de mim, faço votos de extingui-las, todas;
  • “Os portões do Dharma são incontáveis, faço voto de atravessá-los todos” – os portais da sabedoria são inúmeros. Se abro uma porta, aprendo algo novo, que maravilha! E logo surge outra porta para abrir, de modo que vou caminhando e abrindo novas portas, e essa vida é imensamente interessante, porque é cheia de maravilhas;
  • “O caminho de Buddha é insuperável, eu faço voto de percorrê-lo” – me proponho a caminhar onde Buddha caminhou.

Todos esses quatro votos são impossíveis.

Você não vai salvar todos os seres, mas faz os votos de tentar. Eu decido usar meu tempo, que é muito escasso, para estudar o dharma, atender a pessoas que precisam de orientação, conselho. Ajusto o horário de trabalho, realinho as minhas prioridades, para participar de várias atividades e práticas. Vivo o Zen na minha vida diária.

Não estou cansado, porque é uma vida maravilhosa e vibrante. É uma vida que está preenchida, porque eu estou pensando nos votos do Bodhisattva. Os seres são inumeráveis, eu faço volta de libertá-los todos. Portanto, qualquer pessoa que me escreve ou que me encontra e diz que superou algum sofrimento, é como um presente, é recompensador.

Sobre as paixões inesgotáveis, isso é o que prometo a mim mesmo: esgotá-las, extinguir todos os meus enganos. Esforço-me para livrar-me de cada uma das paixões ou estou em processo de libertar-me. Prometo identificar e livrar-me de muitas outras que ainda não percebo.

E os portões do Dharma, como eu disse, são maravilhosos e também são inumeráveis, porque esse caminho não tem fim.

O caminho de Buddha é infinito. Então não importa, tenho a eternidade pela frente… com serenidade e paciência, juro percorrê-lo.

Quando penso nos votos do Bodhisattva, a minha vida é preenchida, a sensação de vazio desaparece.

Adaptação de parte da palestra proferida pelo mestre Meihô Genshô Sensei, Rio do Sul/SC, 2019.

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Observações acerca do Zazen e do Vazio

1) Dentre as técnicas de concentração, destacamos 3:

1ª  Técnica – Shikantaza

  • Shikan – Concentrar-se em um único ponto.
  • Za – sentar.

2ª Técnica de Concentração na audição

O método de escutar profundamente os sons da natureza, está além de ouvir com os sentidos orgânicos.

3ª Técnica – Concentrar em não concentrar….  Desfazer a dualidade: observador e o objeto.

O ponto chave é deixar a mente original desocupada.

Um ponto é particular. Se focar em um ponto, já é sinal de dualidade.  A não ser que o torne, a chave para perdê-lo.  Quando perder o ponto, é sinal que já atravessou o portal.

Não visualize formas e não busque a não-forma. Se assim fizer, não ultrapassará as formas e não perceberá a não-forma – a essência de tudo.  Não-forma – arupa.

2) Salvar a todos os seres. Como assim?

No sutra Takkesahge, ao final, declara-se o propósito de salvar a todos os seres.

Esta citação é um Koan.

Primeiro salve a si mesmo, livre-se da ignorância, se ilumine, para depois, com a sua influência, através dos seus vários canais, contribuir com todos que o rodeiam, para estimular a compreensão completa, a sabedoria, libertando-os da ignorância. Porque assim, eles salvam a si mesmos.

Mas considerando que o Cósmico é Uno, tudo toca o universo, porque está Nele, portanto a todos os seres….

Um pio de um sabiá, aqui, é sentido na Constelação de Andrômeda.

3) E quando eu chegar ao Vazio, o que fazer ?

Vazio não é vácuo e nem precipício…. O Vazio é a Consciência Cósmica que tudo inclui. Não se entra no Vazio ou se sai do Vazio.

O Vazio é autossuficiente. Ele não precisa de ser preenchido já que ele é tudo.

Tenha paciência consigo mesmo. Quando perceber o Vazio, você está nele, você é ele. Contente-se em contemplá-lo e auscultar o silêncio.

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GENEROSIDADE

O viajante, na busca espiritual, precisa galgar 6 degraus até alcançar a Plena Sabedoria. Trata-se das 6 paramitas, as 6 perfeições, sendo a Generosidade, o primeiro destes 6 degraus. Está relacionada ao desapego, mas vai além, pois insere a Vontade silenciosa da alma de doar ou doar-se, sentimento superior ao desejo, que está relacionado ao corpo.

A ação generosa é o ato voluntário que separa o homem bruto, egoísta, do homem superior.

A generosidade é, portanto, um grande portão de acesso aos altos níveis de espiritualidade.  É a ação voluntária de doar o que se tem, e a si próprio, para aqueles que precisem.

É um ato superior ao de distribuir as coisas inservíveis, a pessoas carentes, isento de conotação de superioridade do doador em relação a quem recebe a doação, que algumas vezes, o termo “caridade” traz.

Se a nossa vida terrena é limitada ao tempo, o maior presente que um ser humano pode dar a outro é o seu tempo. O tempo que você doa a um amigo, a uma causa fraternal ou mesmo a um desconhecido é doação de vida.

Ser generoso é fazer aquilo que você não tem o dever legal ou moral de fazer, mas faz mesmo assim para ajudar, para ver o outro mais feliz. Vai muito além da honestidade, da retidão de caráter e do senso de dever.

A prática da generosidade inicia-se através de pequenos gestos no cotidiano, no convívio familiar e nos grupos a que pertença. Por exemplo:

  • Cuidar de um incapaz no seio familiar, não por sentir-se na obrigação ou como um peso cármico que tenha que carregar, mas por compaixão.
  • Contribuir com as despesas de um grupo a que pertença – igreja, clube ou associações.  
  • Acolher uma pessoa confusa e ansiosa, contribuindo para que ela possa sanar as suas ansiedades e ultrapassar suas angústias.

Se é capaz destes pequenos gestos, você já pratica a generosidade. Ela é uma ação que brota do sentimento de solidariedade, cresce com o espírito de associativismo, e se consolida com a compreensão e absorção do senso de inseparabilidade.

Generosidade vai além da honestidade ou Justiça comum. O generoso doa por prazer, não se preocupando se seu ato é ou não, uma reparação política, social, da humanidade, ou cármica individual ou coletivo.

Fonte: Texto extraído da crônica “O significado espiritual da doação” de autoria de Tayo Mattos, e do artigo de Sílvia Marques (psicanalista, escritora e atriz).

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Respiração

Todos conhecem o aforismo: “A respiração nos iguala a todos”.

  • Ricos, pobres
  • Cultos, incultos
  • Poderosos e humildes   
  • Vilões e vítimas

A vida depende direta ou indiretamente da respiração em todos os reinos – plantas, animais inferiores e superiores

A Respiração não é apenas um processo químico-biológico, mas o meio para a essência vital, também conhecida como “Rei, Nous, Ki, Prana”, a energética cósmica que permeia e penetra  tudo que existe, via chispa espiritual, que dá a originação e mantém a vida.

Os estudiosos decompõem estes temos em várias funções, como exemplo:

Rei é a energia cósmica prana-shakti, que quando correlaciona-se à energia Ki (vital), tem por consequência, a ativação e expansão dos centros vitais, harmonizando-se à Nous, a “Mente Universal”.

O estudo de Henrique Arantes de Melo da Unversidade de Uberlância, decifra o significado de Rei-Ki.

Os termos Rei-ki, vem do kanji japonês, que é composto por dois significados que se entrelaçam.

  • Os traços superiores estão ligados à energia Rei, que simboliza o plano divino, o aspecto universal e espiritual que  penetra “todas as coisas  e circunda tudo que existe”, sendo a energia atemporal positiva “yang”.
  • Ki, a parte inferior do kanji, é qualificada como energia “yin”.  Representa a energia negativa – plano material. É a energia que permeia e infunde, dando vida a todos os organismos.

Durante séculos, os iogues usaram o controle da respiração, ou pranayama, para promover a concentração e melhorar a vitalidade.

Buda nos ensinou que a meditação, conduzida pela respiração consciente, é uma maneira de alcançar a iluminação, representando ela o 7º passo do “Caminho da Óctuplo.

A respiração controlada pode promover a cura para diversas moléstias que afligem a nossa sociedade, sendo hoje, tema de estudo científico em diversas direções.

Por exemplo, o estudo de autoria de Lesley Alderman comprovando que a respiração controlada reduz o estresse, aumenta o estado de alerta e melhora o sistema imunológico.

A ciência está apenas começando a oferecer evidências de que os benefícios dessa prática antiga são reais. Estudos descobriram que as práticas de respiração podem ajudar a reduzir os sintomas associados com a ansiedade, a insônia, o transtorno de estresse pós-traumático, a depressão e o déficit de atenção.

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